Racionamento de energia? “Não há uma maneira boa de dar uma má notícia”, diz António Saraiva

O representante dos patrões, defende, em entrevista ao programa Hora da Verdade, que para mitigar o impacto da subida do preço do gás natural seja criado “um défice tarifário à semelhança do que há tempos lá atrás se fez em relação à energia eléctrica”.

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António Saraiva, presidente da CIP, na Hora da Verdade Nuno Ferreira Santos

António Saraiva, presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), admite, em entrevista ao PÚBLICO e à Rádio Renascença, sobre a eventual necessidade de racionar a energia no próximo Inverno, que “não há uma maneira boa de dar uma má notícia”.​ E diz esperar que, ao contrário daquilo que foi observado nos últimos dois anos, neste ano possa chover mais.

Em relação a custos de produção, o que ainda pode ser feito para minimizar o impacto do preço da electricidade e gás?
Podem ser tomadas medidas a nível europeu porque estes aumentos resultam de questões geopolíticas, dos efeitos da guerra da Ucrânia. Hoje, o gás natural custa seis, sete vezes mais do que anteriormente. Uma empresa que tivesse consumos de 80 mil euros, hoje tem de 600. Uma empresa mais pequena que tivesse três, quatro mil euros, hoje tem 30 ou 40 mil. O que é que se pode fazer? É a União Europeia criar um bloco de ajuda, um fundo, da mesma maneira que fez em resposta a covid – os tais 700 mil milhões de euros no Next Generation, que depois deu a continuidade com os PRR.

Aquilo que defendemos e tenho apresentado ao Governo é que se crie, no caso do gás natural, um défice tarifário à semelhança do que há tempos lá atrás se fez em relação à energia eléctrica. Criar esse défice tarifário, articulando-o com a banca. Há maneiras de a banca ajudar nesta engenharia, nesse défice tarifário, como em bonds.

Qual tem sido a recepção do Governo a essas propostas?
Tem sido favorável. Não é um tema fácil, obviamente envolve outros Estados-membros dentro da coesão e solidariedade da União. E ela nem sempre tem existido porque assimetricamente alguns vão tomando medidas, tentando minorar o efeito de dependência que criaram em relação ao gás russo. Isto não é fácil. Mas o que eu critico e tenho sinalizado é a morosidade da decisão, quer da União Europeia, no seu processo decisório, quer do próprio Estado português.

O apoio às empresas vem agora em Setembro, o apoio às famílias veio um pouco antes. Estamos com esta tempestade perfeita há dois anos, com a covid, e desde Fevereiro com a guerra. Há muito tempo que tardam as respostas.

Acha que pode haver um racionamento de energia neste Inverno para famílias e empresas em Portugal?
Não há uma maneira boa de dar uma má notícia e não quero ser profeta da desgraça ou de más notícias catastrofistas. Mas temos que ter alguma fé que vamos ter chuva em maior quantidade do que tivemos nestes últimos dois anos. Estamos, como sabemos, com a maior seca dos últimos 500. E, de facto, em termos das alterações climáticas, temos fenómenos aos quais temos que nos saber adaptar.

A ausência de água com a questão dos espanhóis gerirem a seu favor o Tratado de Albufeira, que lhes permite cortar os caudais em geometria variável de conveniência, cria alguma dificuldade de gerar energia eléctrica. As energias alternativas que temos desenvolvido não são suficientes para a necessidade de consumo que temos. Enfim, vamos ter esperança de que vai chover mais, porque se assim não for, vamos ter que tomar, nós país, algumas medidas de criar reservas com algumas reduções inteligentes de consumo.

Está a ser cauteloso mas, no fundo, acha que é inevitável.
Estou a ser cauteloso por uma razão. Isso não se adivinha. Teremos que estar preparados para alguma eventualidade. Agora podemos ter sorte e ela não se verificar. Temos que precaver-nos para alguma coisa que vier a acontecer.

O plano de poupanças energéticas do Governo não o convenceu?
Em termos da poupança energética, o Governo vai ter que ir corrigindo o tiro. Apresentou um plano mas penso que vai ter que ir corrigindo o tiro à medida que os efeitos se verificarem, porque é impossível prever.

Não há um plano B que esteja a ser preparado?
Admito que haja um plano B porque, como digo, nós devemos estar sempre preparados para o pior desejando que ocorra o melhor.

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