Varíola-dos-macacos: Portugal ainda não sabe quando receberá mais vacinas

Direcção-Geral da Saúde confirma ainda que as vacinas contra a varíola, armazenadas no país, não foram utilizadas por serem de primeira geração e estarem desactualizadas.

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Portugal recebeu apenas 2700 doses de vacinas de terceira geração contra a varíola DADO RUVIC/REUTERS

Cinco meses volvidos, o surto de varíola-dos-macacos está a abrandar na Europa, onde o vírus se disseminou com maior rapidez até ao Verão. Ainda assim, a Comissão Europeia não desarma e continua a reforçar a importância de distribuir vacinas de terceira geração para conter e, eventualmente, eliminar a ameaça. No entanto, até esta quinta-feira, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) continuava sem saber quando serão distribuídas as novas doses contratualizadas pela agência europeia HERA [sigla em inglês de Autoridade Sanitária de Resposta e Emergência].

Portugal recebeu 2700 das mais de 110 mil doses compradas inicialmente pela Comissão Europeia à fabricante da Imvanex, vacina de terceira geração contra a varíola que mostra também eficácia contra a varíola-dos-macacos (VMPX ou monkeypox). Esta compra foi no final de Maio, desde aí foram contratualizadas 54 mil em Julho e 170 mil doses no início de Setembro.

“A HERA informou os estados-membros, incluindo Portugal, que uma segunda doação está prevista para se iniciar no 3.º trimestre de 2022, aguardando-se a qualquer momento pormenores sobre a distribuição e data de recepção para Portugal”, informou a DGS em resposta ao PÚBLICO. Neste momento, quando já estamos no último trimestre do ano, ainda não há novas informações sobre esta distribuição.

A compra conjunta pelos estados-membros da União Europeia pressupõe uma maior flexibilidade na estratégia de vacinação por parte dos países mais afectados. A 20 de Setembro, Portugal passou a incluir a vacinação preventiva de pessoas que estão, neste momento, em maior risco de contrair a infecção. Até esta quinta-feira, já tinham sido vacinadas 522 pessoas que estiveram em contacto com casos confirmados ou suspeitos, bem como 88 pessoas no contexto da vacinação preventiva (dados avançados pela DGS). Portugal já teve, desde o início do surto, 930 pessoas infectadas.

Além da demora na entrega das vacinas, há também críticas no modelo de distribuição das mesmas. Margarida Tavares, porta-voz da DGS para este surto e que agora é secretária de Estado para a Promoção da Saúde, destaca isso mesmo em declarações ao PÚBLICO, no final de Julho: “Como as doses foram distribuídas per capita – os países maiores tiveram mais doses e os mais pequenos menos, independentemente da dimensão dos casos que estão a sofrer.”

A Comissão Europeia, questionado pelo PÚBLICO sobre os períodos de entrega, quer o modelo de distribuição, não avançou quaisquer detalhes sobre esta operação.

A 15 de Setembro deste ano, a adopção em Portugal da apelidada “poupança de doses” permitiu uma maior utilização das 2700 vacinas disponíveis no país. Esta estratégia de “poupança de doses”, em que um frasco permite administrar cinco doses, garante um aumento das imunizações possíveis.

Apesar da quebra na Europa, os números continuam a crescer. O continente americano tem sido especialmente afectado, com Estados Unidos (26.311 casos confirmados) e Brasil (8029) no topo da lista de países com mais infecções registadas. Desde a comunicação do primeiro caso confirmado, a 7 de Maio no Reino Unido, já foram diagnosticadas mais de 70 mil pessoas com VMPX – a maioria em países onde o vírus não está habitualmente presente.

Vacinas desactualizadas

Em Junho, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou a administração de vacinas para contactos de risco e profissionais de saúde, uma das questões sem resposta era sobre as reservas estratégicas de vacinas contra a varíola.

Em 2008, a (na altura) subdirectora-geral da Saúde, Graça Freitas, afirmava que tinham sido adquiridas vacinas contra a varíola, já que esta pode ser uma arma biológica. Estas eram vacinas de primeira geração, como confirma a DGS ao PÚBLICO, e não foram utilizadas neste surto de VMPX, já que a própria OMS as descartava.

“Portugal, como muitos outros países que tinham vacinas de primeira geração em stock para a varíola, não chegou a utilizar o referido stock, pois essas vacinas já se encontravam desactualizadas”, responde a DGS.

Na recomendação da OMS, datada de 14 de Junho e entretanto actualizada, apenas é recomendada a utilização de vacinas de segunda e terceira geração para imunizar a população contra o VMPX. De acordo com o organismo mundial, estas vacinas “não cumprem com os padrões actuais de segurança e fabrico”.

Tal como em 2008, não foram adiantadas informações sobre o número de doses disponíveis destas vacinas de primeira geração – que estarão, agora, inutilizáveis.

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