FMI vê risco contido de espiral salários-preços

Inflação e salários estão a acelerar, mas em termos reais a estagnação ou a descida do valor dos salários ainda é a norma, assinala o FMI.

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Escalada da inflação está a colocar salários sob pressão. Adriano Miranda

A estagnação que se verifica nos salários reais e aquilo que aconteceu em episódios semelhantes no passado são alguns dos motivos para que o Fundo Monetário Internacional considere que o risco de entrada das economias mundiais numa espiral de subidas de salários e preços está contido, principalmente se os bancos centrais agirem de forma rápida e decisiva.

Num dos capítulos —​ pré-publicado nesta quarta-feira — do relatório World Economic Outlook de Outono, os técnicos do FMI analisam uma das principais questões que se colocam neste momento na condução da política económica no actual período de elevada inflação. Vários economistas e políticos — incluindo o primeiro-ministro e o ministro das Finanças portugueses — têm alertado para que, se a resposta às taxas de inflação altas for uma subida dos salários também muito elevada, se corre o risco de cada um destes fenómenos ir-se alimentando um ao outro, naquilo a que normalmente se chama uma espiral salários-preços.

Neste trabalho, o FMI define uma espiral salários-preços como “um episódio de vários trimestres (…) em que tanto os salários como a inflação aumentam simultaneamente”.

Para já, aquilo que o Fundo observa é que, “embora a inflação nos salários e nos preços tenha acelerado de forma generalizada ao longo de 2021, os salários reais mantiveram-se parados ou caíram em média ao longo das economias”. “Este é um aspecto importante da actual conjuntura, já que a queda dos salários reais pode ser desinflacionária ao baixar os custos reais das empresas”.

E para tentar perceber se, no futuro próximo, a espiral ainda se pode vir a formar, o Fundo analisou episódios do passado com semelhanças com o actual, concluindo que “esses episódios não tenderam a ser seguidos por uma espiral salários-preços”. “De facto, em média, a inflação acabou por cair de forma gradual e os salários nominais recuperaram terreno ao longo de vários trimestres”, afirma o relatório, que ainda assim assinala que, “em alguns casos, a inflação manteve-se elevada durante algum tempo”.

O Fundo destaca também o facto de, actualmente, o aumento dos salários ser bem explicado pelas expectativas da inflação e pelas condições que se vivem no mercado de trabalho, mais uma razão para acreditar que o aparecimento de uma espiral não é provável.

Ainda assim, o FMI deixa um aviso: “Quando as expectativas em relação aos preços e aos salários são mais baseadas no que aconteceu no passado, as acções da política monetária têm de ser adoptadas de forma antecipada, para minimizar os riscos de uma desancoragem da inflação.” Se tal for cumprido pelos bancos centrais — com as subidas fortes de taxas de juro a que actualmente assistimos —, “o risco de uma espiral salários-preços persistente surgir no actual episódio é contido”, dizem os responsáveis do Fundo.

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