Medidas de protecção e regeneraçao do solo “são insuficientes”
O presidente da Sociedade Portuguesa da Ciência do Solo, Carlos Alexandre, alerta para a perda de matéria orgânica na terra. Solos regenerados são parte da solução para problemas relacionados com agricultura ou impacto das secas, garantem especialistas.
O presidente da Sociedade Portuguesa da Ciência do Solo, Carlos Alexandre, considera que as actuais medidas de protecção e regeneração dos solos são insuficientes, e alerta para a perda de matéria orgânica.
Citado num comunicado do movimento internacional “Salve o Solo”, o professor da Universidade de Évora diz não considerar que as medidas sejam suficientes, contrapondo que “todas as práticas de gestão que contribuem para o aumento da matéria orgânica do solo estão também a contribuir para o aumento das reservas de água, principalmente no solo e no subsolo e, portanto, a contribuir para aumentar a resistência e resiliência dos ecossistemas e agro-sistemas a períodos de escassez de água”.
O movimento “Salve o Solo” defende como solução para problemas relacionados com agricultura ou impacto das secas o aumento do teor de matéria orgânica no solo português em entre três a seis por cento.
A matéria orgânica do solo e a actividade biológica, incluindo as raízes das plantas, são essenciais para promover a porosidade do solo, o que permite que o excesso de água seja drenado para maiores profundidades, salienta o responsável, no documento.
Maria José Roxo, professora catedrática da Universidade Nova, investigadora na área da desertificação, degradação de ecossistemas ou alterações climáticas, afirma também, citada no mesmo comunicado, que é incontestável a importância de um solo saudável, e que a necessidade de o converter ou regenerar “é uma prioridade e uma obrigação”.
“Solos saudáveis funcionam como uma esponja, absorvendo a água da chuva e com um grau de infiltração mais elevado, permitindo que a água circule para o interior. Desta forma, esta água irá alimentar os lençóis de água subterrâneos, que irão alimentar as nascentes e consequentemente os rios”, diz a especialista.
Mais nutrientes, menos pesticidas
Maria José Roxo nota ainda que num solo saudável e bem gerido as culturas recebem mais nutrientes e as necessidades de produtos agro-químicos são menores.
No comunicado, o movimento recorda a seca hidrológica em Portugal, os incêndios, e mais recentemente chuvas fortes que provocaram inundações pontuais para salientar que a importância do solo não pode ser negligenciada, tanto mais que se estima que 58% de Portugal esteja em risco de desertificação.
A degradação do solo, alerta o movimento, é uma das principais causas, ainda que “frequentemente ignorada” das secas e das inundações. E acrescenta que o aumento de matéria orgânica no solo é directamente proporcional à capacidade de retenção de água no solo.
O movimento “Salve o Solo”, apoiado pela Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD) e pelo Programa Alimentar Mundial, recomenda que os governos em todo o mundo criem legislação que imponha um mínimo de três a seis por cento de conteúdo orgânico em todos os solos agrícolas nos seus respectivos países.
O movimento foi criado por Jaggi Vasudev, normalmente citado como Sadhguru, um místico e escritor indiano que fundou a Fundação Isha.
Em Julho, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, apelou à acção para “um futuro sem seca” e disse que “cada dólar investido na recuperação dos solos multiplica-se por 30”, atendendo ao impacto ambiental positivo.