Conhecer o mar de Cascais, Sintra e Mafra junta 50 investigadores a partir deste sábado

A expedição justifica-se pela necessidade de conhecer e proteger o património natural do país, “respondendo às políticas nacionais, europeias e internacionais de protecção e gestão sustentável do oceano”, dizem os organizadores.

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Praia dos Pescadores, em Cascais Daniel Rocha

A caracterização da vida e dos habitats no mar de Cascais, Sintra e Mafra junta a partir deste sábado cinquenta investigadores, que ao longo de 12 dias vão explorar uma zona ainda “mal conhecida”.

“É uma zona próxima de grandes centros urbanos, mas mal conhecida. É uma zona que conhecemos de terra mas não o que acontece no mar”, disse à agência Lusa o biólogo e investigador Henrique Cabral, consultor científico e que co-lidera a expedição.

Com o apoio dos três municípios, da Fundação Oceano Azul e do Governo de Portugal, a expedição terá como base o navio Santa Maria Manuela, mas compreende muito mais, em termos de metodologias a usar para fazer “um grande levantamento da flora e da fauna marinhas”, explicou o responsável.

Ao longo dos 12 dias, equipas de mergulhadores, através de uma metodologia científica e padronizada, vão registar os organismos marinhos, numa zona não muito profunda. São, disse Henrique Cabral, todos biólogos e especialistas em diversas áreas. Um grupo de mergulhadores vai identificar também outros organismos e espécies dominantes de algas, porque tal tem influência nos habitats. Todos eles a trabalhar até 20 metros de profundidade na zona costeira, porque para zonas mais profundas será usado um veículo operado remotamente (ROV, Remotely Operated Vehicle).

Com uma câmara de filmar, o ROV vai permitir fazer um “varrimento vídeo em áreas mais vastas” e um inventário das zonas mais profundas, sendo as imagens depois “dissecadas” em computador. “Estamos a pensar fazer trabalho na “montanha de Camões”, uma zona a 12 milhas a oeste do Cabo da Roca, um monte submarino com alguma diversidade biológica”, explicou à Lusa o responsável.

E depois, porque quer o ROV quer os mergulhadores afastam os peixes, acrescentou Henrique Cabral que acrescenta que vai ser usada outra técnica, que consiste numa câmara de filmar com isco (BRUV, Baited Remote Underwater Video), para identificar espécies, quer em câmaras a flutuar à superfície quer em câmaras no fundo do mar. Henrique Cabral espera “encontrar-se” com tubarões ou com golfinhos, mas também com crustáceos e moluscos, nas zonas mais profundas.

São metodologias para um conhecimento o mais amplo possível, que será complementado com outros estudos por avistamento, de aves, por exemplo, através de pequenas embarcações que saem do navio Santa Maria Manuela, segundo o responsável.

A zona da linha de costa também está incluída no trabalho, seja por terra, na maré baixa, seja através de drones, para zonas de menor acessibilidade e que permitem fazer fotografias e vídeos para determinar, por exemplo, a percentagem de cobertura de algas ou de mexilhões.

A chamada “Expedição Oceano Azul Cascais/Mafra/Sintra” justifica-se, dizem os organizadores, pela necessidade de conhecer e proteger o património natural do país, “respondendo às políticas nacionais, europeias e internacionais de protecção e gestão sustentável do oceano”.

Estão envolvidas instituições científicas como o MARE (Centro de Ciências do Mar e do Ambiente), o CCMAR (Centro de Ciências do Mar), o CESAM (Centro de Estudos do Ambiente e do Mar), a SPEA (Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves), o IPMA (Instituto Português do Mar e da Atmosfera) e o IH (Instituto Hidrográfico).

A iniciativa é liderada por Emanuel Gonçalves, responsável científico e administrador da Fundação Oceano Azul, e por Henrique Cabral, biólogo e investigador no Institut National de Recherche pour l"Agriculture, l"Alimentation et l"Environnement (INRAE), em França. O último explicou à Lusa que o IPMA e o IH vão também fazer outras investigações ao longo dos 12 dias, e que questões como lixo marinho ou as pressões das actividades humanas também vão ser tidas em conta.

Com os dados e imagens recolhidos será produzido um relatório científico, e será também feito um documentário.

Nas palavras de Henrique Cabral, a maior parte da investigação será feita até 30 quilómetros da costa. E os investigadores irão estar atentos ao facto de se tratar de uma zona próxima de canhões submarinos (desfiladeiros) de Lisboa e da Nazaré, e também uma zona de transição de espécies, entre águas mais quentes do norte de África e águas mais frias, e a possibilidade de as alterações climáticas poderem estar a trazer mudanças na fauna e flora. E vão ainda abordar a questão das espécies não indígenas, trazidas por exemplo em cascos de navios ou em águas de balastro.

Segundo Henrique Cabral, há muitas zonas da costa portuguesa que precisam de ser estudadas. Haja um conjunto de vontades que se unam e a expedição pode ser replicada.

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