Comandante do exército do Burkina Faso anuncia queda do Governo militar

Líder do Governo militar foi deposto pelo exército. É o segundo golpe de Estado no Burkina Faso em apenas oito meses.

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Golpe de Estado foi anunciado na televisão RADIO TELEVISION BURKINA FASO/Reuters
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Barricada militar junto ao Palácio Presidencial em Ouagadougou ASSANE OUEDRAOGO/EPA

A capital do Burkina Faso, Ouagadougou, foi esta sexta-feira palco de explosões e de tiroteio intenso. Seguiram-se uma grande presença militar nas ruas e a suspensão das emissões da rede pública de televisão, suscitando especulações sobre um possível motim ou um golpe de Estado, entretanto anunciado pelo comandante do exército Ibrahim Traore.

As forças armadas do país terão conseguido destituir o seu líder militar, Paul-Henri Damiba, e dissolver o Governo. É o segundo golpe de Estado no Burkina Faso em apenas oito meses.

A Constituição do país foi suspensa, as fronteiras estão encerradas por tempo indeterminado e todas as actividades políticas e da sociedade civil foram interrompidas. Além disso, foi determinado recolher obrigatório no país, das 21h às 5h, declarou Traore, num comunicado lido na televisão nacional por outro soldado.

O descontentamento em relação à resposta de Paul-Henri Damiba à crescente violência jihadista terá sido a principal motivação para o golpe de Estado.

“Face ao agravar da situação, tentámos por várias vezes pedir a Damiba que reorientasse o Governo de transição para a questão da segurança”, afirmou Traore. “As acções de Damiba fizeram-nos perceber que as suas ambições estavam a desviar-se do que nos propusemos a fazer. Decidimos hoje destituir Damiba.”

"Um verdadeiro líder de guerra que liberte o país"

Durante a tarde desta sexta-feira, fontes governamentais citadas pela rede de televisão britânica BBC falaram de um motim e indicaram que as autoridades estavam a negociar com os envolvidos. Um membro das forças especiais disse, em declarações ao portal Infowakat, do Burkina Faso, que os revoltosos queriam “um verdadeiro líder de guerra que liberte o país”.

A mobilização dos soldados ocorreu após uma explosão nas proximidades do aeroporto da capital, enquanto testemunhas citadas pela revista Jeune Afrique indicaram que os tiros também foram disparados perto do Palácio Presidencial e da base Baba Sy, quartel-general do Presidente de transição, Paul-Henri Sandaogo Damiba.

“O chefe de Estado está bem e está em Ouagadougou”, disse uma pessoa próxima do líder da Junta militar, que apelou à calma no país. O porta-voz do Governo, Lionel Bilgo, negou ter sido detido e sublinhou que o primeiro-ministro, Albert Ouédraogo, também não estava detido pelos militares, segundo o portal de notícias Le Faso.

A confusão sobre a situação foi agravada pela instalação de várias barricadas controladas pelos militares em vários pontos da cidade, incluindo em torno do Palácio Presidencial, enquanto um grupo de manifestantes tomou as ruas de Ouagadougou para exigir a renúncia de Damiba e a libertação de Emmanuel Zoungrana, suspeito de planear uma tentativa de golpe de Estado antes de Damiba ter assumido o poder.

A Embaixada dos Estados Unidos no Burkina Faso recomendou aos seus cidadãos para “limitarem os seus movimentos” e para se manterem informados pelos meios de comunicação locais, segundo um alerta de segurança publicado no seu site oficial.

O país era controlado por uma Junta militar desde Janeiro deste ano, após o golpe de Damiba contra o então Presidente Roch Marc Christian Kaboré, na sequência de um motim em protesto contra a insegurança e a falta de meios para enfrentar o jihadismo.

Os militares que ajudaram Damiba a chegar ao poder a 24 de Janeiro decidiram agora afastá-lo, devido à falta de capacidade do chefe de Estado para responder ao agravamento da rebelião de extremistas islâmicos, alegaram. Em breve deverá assumir o poder um novo Governo de transição, liderado por um Presidente civil ou militar.

Desde 2015 que a insegurança no Burkina Faso aumenta de forma significativa, com ataques de grupos terroristas ligados à Al-Qaeda e ao Daesh que já provocaram milhares de mortes, aumentando o número de deslocados internos e refugiados do país.

Ainda esta semana, pelo menos 11 soldados morreram num ataque no Norte do Burkina Faso. Dezenas de civis continuam desaparecidos.

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