A sublevação pelo diálogo
O espírito de diálogo verdadeiro e de uma atitude de dar a palavra a outros é o que hoje mais chama a atenção no conjunto de 37 números da revista Cinéfilo agora em boa hora disponíveis online para consulta gratuita e conhecimento de todos.
Perdoe-se-me que inicie a crónica de evocação do curto, mas frutuoso período em que foi publicada a revista semanal Cinéfilo com uma nota pessoal e necessariamente subjectiva. Ainda me lembro do local em que avidamente folheei, como todas as semanas fazia, o penúltimo número — 36 — numa manhã soalheira na Praça da Liberdade do Porto perto da estátua de D. Pedro IV no dia 15 de Junho de 1974. Viviam-se já tempos felizes de muita esperança e alguma imaginação ao poder, com a incerteza também que o processo em curso inevitavelmente ainda trazia. Nessa manhã o número do Cinéfilo não dizia nada ainda sobre o seu fim imediato, o que sucederia inesperadamente no número imediatamente seguinte a pretexto da crise do papel e do aumento de salários na empresa. A revolução trouxera assim também alguns amargos de boca. A Sociedade Nacional de Tipografia, que publicava também O Século, era a empresa proprietária do título que iniciara 9 meses antes, mais precisamente em 4 de Outubro de 1973, a publicação desta afinal breve II Série dirigida por Fernando Lopes e com António-Pedro Vasconcelos como chefe de redacção, com uma evidente e fora do vulgar alegria e enorme dinamismo. Foi uma suspensão abrupta, mas que pode sempre tomar-se como temporária, como acabou por ser a da I Série dirigida por Avelino de Almeida encerrada em 1939 após 11 anos de publicação como consequência do início da guerra e também pela crise do papel e no caso do zinco como se lê na reprodução logo na página 3, ao lado dos comunicados da direcção e da administração.
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