“Temos de nos preparar para uma nova era de disrupção”

Três perguntas a Daniel S. Hamilton, investigador no Instituto Brookings, em Washington, e sub-secretário de Estado dos EUA na Administração Clinton, onde ajudou a coordenar as políticas norte-americanas para a Europa, a NATO e as relações transatlânticas.

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Mobilização de reservistas russos em Moscovo YURI KOCHETKOV/EPA

No actual contexto no terreno, com um aparente recuo do Exército russo, considera que a anexação ilegal dos territórios ucranianos ocupados é uma justificação para uma escalada militar da Rússia, ou o sinal de uma perda de influência de Vladimir Putin no plano interno?
Ambas as coisas. É uma prova de que Putin percebeu que não tem capacidade para tomar a Ucrânia, pelo menos por agora. Em vez disso, está a tentar consolidar os seus ganhos militares e a elevar a fasquia para futuros ataques ucranianos ou para uma possível intervenção do Ocidente. E continua a provocar a ruptura da sociedade ucraniana, possivelmente para se reposicionar para futuros ataques quando acreditar que chegou a hora certa. Ao mesmo tempo, a resposta negativa da sociedade russa à mobilização parcial que foi decretada por Putin revela que a guerra não lhe está a correr bem no plano interno.

Este é o momento mais perigoso desde o início da invasão?
O momento mais perigoso foi a fase inicial da invasão russa, em Fevereiro, quando não era claro se a Ucrânia iria conseguir sobreviver como país independente.

Que cenários antecipa para os próximos tempos, tendo em conta a ameaça de uso de armas nucleares?
Há muitos comentadores que gostam de se questionar sobre como acabará esta situação. Mas eu acho que há duas perguntas mais relevantes do que essa. A primeira é “De que forma irá continuar este conflito?” Mesmo que venha a ser acordado um cessar-fogo numa linha de contacto que corte todo o território ucraniano, nem a Rússia – nem mesmo sob a liderança de um hipotético sucessor de Putin –, nem a Ucrânia, vão alguma vez reconciliar-se com uma situação dessas. A segunda questão é ‘Até onde irá alastrar-se este conflito?” A guerra já está a ter consequências dramáticas para as sociedades em toda a Europa, e também em muitas partes do mundo. E há poucas hipóteses de a situação se alterar nos próximos tempos. Temos de nos preparar para uma nova era de disrupção.

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