Coreia do Norte dispara mais dois mísseis antes da visita da vice-presidente dos EUA à Zona Desmilitarizada

Coreia do Sul denuncia lançamento de dois mísseis de curto alcance lançados a partir da região de Pyongyang. Presença de Kamala Harris na região acontece ao mesmo tempo em que norte-americanos e sul-coreanos realizam exercícios militares conjuntos.

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Kamala Harris esteve no Japão e vai visitar a Coreia do Sul Reuters/LEAH MILLIS

A Coreia do Norte disparou dois mísseis balísticos de curto alcance nesta quarta-feira, denunciaram as Forças Armadas sul-coreanas. O regime de Kim Jong-un já tinha disparado outro míssil de características semelhantes no domingo, véspera da chegada à região de Kamala Harris, vice-presidente norte-americana, e do início de exercícios militares conjuntos entre Coreia do Sul e Estados Unidos.

Os disparos desta quarta-feira também acontecem na véspera de um evento importante: na quinta-feira, Harris vai visitar a Zona Desmilitarizada (DMZ), a famosa linha de demarcação militar ao longo da fronteira entre as duas Coreias – tecnicamente em guerra desde os anos 1950 – com mais de 240 quilómetros de extensão.

De acordo com o Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul, onde estão representadas as chefias de todos os ramos das Forças Armadas do país, os mísseis foram disparados a partir de Sunan, a Norte da capital, Pyongyang.

Voaram cerca de 360 quilómetros de distância, a uma altitude de 30 quilómetros e a uma velocidade máxima Mach 6 – o número Mach corresponde à relação entre a velocidade de um objecto e a velocidade do som, ou seja, estes dois mísseis atingiram uma velocidade seis vezes superior à do som.

“As provocações da Coreia do Norte vão fortalecer ainda mais a capacidade dissuasora e resposta Coreia do Sul-EUA e continuar a aprofundar o isolamento [da Coreia do Norte] da comunidade internacional”, afiançaram, no entanto, as Forças Armadas sul-coreanas, num comunicado, citado pela agência Yonhap.

Toshiro Ino, ministro da Defesa do Japão, também reagiu ao disparo dos mísseis de curto alcance, afirmando, segundo a Reuters, que os “repetidos lançamentos de mísseis balísticos” e “uma série de acções da Coreia do Norte” representam “uma ameaça para a paz e para a segurança do Japão, da região e da sociedade internacional”.

Antes de visitar a Coreia do Sul, Harris esteve no Japão, onde marcou presença no funeral de Estado do ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, assassinado, em Julho, na rua, quando participava num comício eleitoral.

Num discurso, nesta quarta-feira, na cidade japonesa de Yokosuka, a bordo do contratorpedeiro norte-americano USS Howard, a vice-presidente democrata disse que o disparo do míssil balístico norte-coreano de domingo faz parte de “um programa de armamento ilícito, que ameaça a segurança regional e que viola múltiplas resoluções do Conselho de Segurança da ONU”.

Visita “simbólica”

A visita de Kamala Harris à DMZ, uma das zonas mais militarizadas da península coreana e da Ásia Oriental, é a mais importante visita de um líder político norte-americano desde que Donald Trump ali esteve, em Junho de 2019 – o ex-Presidente republicano cruzou mesmo a fronteira, por uns momentos, para cumprimentar Kim Jong-un.

Naquela altura, porém, EUA e Coreia do Norte passavam por uma fase de (tentativa de) aproximação, liderada por Trump, que, pelo menos do ponto de vista de Washington, tinha como objectivo encetar negociações sérias para o desmantelamento do programa nuclear e balístico norte-coreano – que acabaram por fracassar.

Nos últimos meses da Administração Trump e nos primeiros dois anos da presidência de Joe Biden as relações entre os dois países congelaram, de novo, numa fase de quase inexistência de contactos.

Para isso também contribuiu o facto de o país de Kim Jong-un ter levado a cabo um número de testes de mísseis sem precedentes, ao longo este ano, incluindo de um míssil balístico intercontinental.

Mesmo sendo, sobretudo, “simbólica”, a visita de Harris à DMZ “envia uma mensagem clara de apoio da Casa Branca à aliança” entre Seul e Washington, garante um antigo responsável norte-americano à Reuters.

A passagem da vice-presidente pelos dois principais aliados dos EUA naquela zona do continente asiático acontece numa altura de grande tensão na região, espoletada, em grande medida, pela visita recente da presidente do Congresso norte-americano, Nancy Pelosi, a Taiwan, o território que a China reclama como sua província.

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