Espadeiro, um segredo que começa a estar muito mal guardado
Frescos, bonitos e saborosos, os rosados de espadeiro têm tudo para seduzir os consumidores. Os vinhos de “espadal”, como são conhecidos na região, são por enquanto uma espécie de segredo da viticultura dos Vinhos Verdes - um segredo que começa a ter os dias contados. É, afinal, destes vinhos sedutores e grau moderado que o mundo anda à procura.
É uma das castas mais populares da região, mas ao mesmo das mais desconhecidas do resto do país, uma espécie de tesouro que os minhotos teimam em esconder, em guardar só para si. Tal como o vinhão, os vinhos de espadeiro têm um consumo de características étnicas. Dificilmente se encontrará uma garrafa de “espadal” – como é comum ser designado o vinho – fora da região. E mesmo dentro de portas viaja pouco, privilegia-se o consumo de produtores vizinhos e conhecidos, de que se conhece a origem.
A casta espadeiro “produz um vinho muito apreciado na região”, descreve a Comissão de Viticultura Regional dos Vinhos Verdes, acrescentando que “os mostos acídulos e pouco ricos em açúcares dão origem a vinhos de cor rubi, de aroma e sabor à casta”, sendo em regra obtidos pelo método de “bica aberta”.
Tão concentrada está a casta no interior minhoto que exclui mesmo os vales limítrofes da região vitivinícola, quer do Minho, a norte, quer do Douro, a sul, concentrando-se o cultivo da nos vales do Lima, do Cávado, do Ave e do Tâmega.
De abrolhamento e maturação tardia, dando cachos grandes e compridos, o que a torna muito produtiva, é, no entanto, sensível à podridão do cacho e exige elevado número de horas de calor para amadurecer, características que a associam a uma irregularidade de produção, que pode explicar o facto de sempre ter andado arredada do circuito comercial.
Mas essa era uma decorrência do tempo das vinhas de bordadura ou de latadas. Hoje, além de as horas de sol serem já mais bem longas na região, a moderna viticultura proporciona também condições de arejamento e maturação dos cachos, que fazem que não seja difícil adivinhar um rápido movimento de procura por estes vinhos.
Ao encontro da corrente
Frescos e sedutores por natureza, ao grau moderado, secura e sabor intenso, juntam ainda a atracção da cor da moda. O mundo movimenta-se, e a grande velocidade, no sentido dos vinhos com estas características. Em alguns países como Japão, EUA ou Canadá, há já nichos de consumidores a descobrir os rosados de espadeiro. E esta é uma casta exclusiva da região (há algum, pouco valorizado, na Galiza), onde tem história e condições ideais de cultivo.
Bastará que a generalidade dos produtores comece a olhar para o potencial da casta, ultrapassando a barreira étnica e o vício do piquinho gasoso, e rapidamente este deixará de ser um segredo. Que, como é fácil de ver, começa a estar muito mal guardado.