Como será a geração mais preparada do futuro?

Sabemos que as gerações futuras vão andar aos trambolhões entre políticos a remendar os erros do passado e sindicatos degradados. Será que os jovens que estão agora a iniciar o seu percurso escolar serão mais preparados do que os que acabam agora os estudos?

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Matilde Fieschi

Ouvimos que a geração que vai sair da universidade é a mais preparada de sempre, e mesmo os que se ficam pelo 12.º ano são, inequivocamente, mais preparados do que há umas décadas. No entanto, olhando para o futuro não deixamos de ficar apreensivos. Afinal de contas, esta geração está preparada para quê? Mais importante: em que contexto foram preparados os jovens?

Trouxe-se à tona da opinião pública o debate sobre a importância do contexto familiar no sucesso dos alunos. No âmbito laboral, vivendo numa crise permanente desde 2008, o país tem maltratado as suas classes trabalhadoras. Cada vez mais, os pais desdobram-se em dois empregos, mais um turno, mais horas extra para conseguir que os filhos comam, durmam e tenham um crescimento digno. Conseguindo assegurar isto, muitas vezes, e cada vez mais, fica por pagar a factura da saúde mental.

Crianças cujos encarregados de educação estão a braços com questões ligadas a problemas de saúde nascidos no contexto laboral, acabam por desaguar em salas de aula e, muitas vezes, o facto de lá chegarem já é uma vitória. Daí a atingirem o dito sucesso académico ainda há um longo percurso. Cada criança, cada jovem, carrega em si as decisões políticas dos governos deste país.

Nas salas de aula, os adultos do futuro são recebidos por uma classe profissional em crise. Desde a representação sindical — lembro-me de ter dez anos e ver Mário Nogueira a justificar uma greve; até aos dias de hoje, um ensino básico, secundário, licenciatura, mestrado e quatro anos de serviço depois —, passando pela dificuldade de adaptação aos tempos deste século, pelo sufoco burocrático, pelos quilómetros que os distanciam dos seus, e por outros tantos motivos.

Se o sistema de ensino se foi aguentando, foi porque a vocação destes profissionais foi, em algum momento, a única razão que os motivava a entrar numa sala de aula, a pegar na mão de uma criança de seis anos e ajudá-la a escrever os números até 9, ou a acordar de madrugada para acompanhar os seus alunos a uma visita de estudo. Eram estas pessoas que se mostravam aos jovens — e que fizeram com que eles afirmassem convictamente que jamais seriam professores.

Com as saídas para as reformas daqueles que formaram a geração mais preparada de sempre, quem irá para o seu lugar? Quem vai mostrar um livro no início de uma aula que pode vir a mudar a vida de um aluno para sempre? Quem vai dizer que, quando estamos a ler, se virmos uma vírgula temos de respirar?

Sabemos que as gerações futuras vão andar aos trambolhões entre políticos a remendar os erros do passado e sindicatos degradados. Será que os jovens que estão agora a iniciar o seu percurso escolar serão mais preparados do que os que acabam agora os estudos?

A terminar este texto, vemos que a palavra crise é muitas vezes repetida. Olhar para o futuro com esta palavra a encandear-nos dificulta o avanço. Ao dizermos que a juventude está preparada, devemos lembrar-nos que estas são as mesmas pessoas que trazem na mochila o peso dos contextos familiares, do sistema de ensino a definhar, dos dois confinamentos e que, em algum momento, tiveram de lidar com estes três factores ao mesmo tempo.

Não basta dizer que são os melhores, é preciso, pelo menos, dar-lhes o espaço que sonharam e que merecem, para depois, no fim, podermos ter orgulho, enquanto sociedade, dos nossos jovens.

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