Comissão Europeia assegura mais de dez mil doses de antiviral para a varíola-dos-macacos

É mais uma compra conjunta para todos os Estados-membros da União Europeia, depois das mais de 300 mil doses de vacinas já contratualizadas para a varíola-dos-macacos

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O antiviral tecovirimat ainda não tem eficácia comprovada em humanos contra a varíola-dos-macacos CDC/REUTERS

Mais de dois meses depois de ser confirmada a intenção de garantir medicamentos para os casos graves de varíola-dos-macacos, a Comissão Europeia comunicou a compra de mais de dez mil doses do antiviral tecovirimat. Esta nova acção conjunta, que permitirá aos Estados-membros da União Europeia ter acesso a estes antivirais, junta-se às mais de 330 mil doses adquiridas durante os últimos meses.

A compra será realizada a partir da agência europeia HERA [sigla em inglês de Autoridade Sanitária de Resposta e Emergência], numa altura em que os casos confirmados no continente europeu registam uma tendência de queda desde meados de Agosto.

A comissária europeia para a Saúde, Stella Kyriakides, refere em comunicado que apesar desta quebra nas infecções, “isto não significa que a ameaça foi ultrapassada ou que podemos baixar a guarda”. A compra de fármacos tinha sido confirmada a 15 de Julho por fonte oficial da Comissão Europeia ao PÚBLICO.

O tecovirimat é o único antiviral aprovado pela Agência Europeia do Medicamento para uso contra a varíola-dos-macacos (monkeypox ou VMPX). O fármaco é também recomendado pela Organização Mundial da Saúde, tendo mostrado resultados promissores na diminuição do período de contágio e dos sintomas. No entanto, os dados sobre estes efeitos em pessoas infectadas com a doença são escassos.

Essa foi uma das notas deixadas por Margarida Tavares, anterior porta-voz da DGS para este surto (e agora secretária de Estado para a Promoção da Saúde), em relação a este antiviral: “Não deve ser utilizado, porque ainda não existe prova da sua eficácia, como os outros medicamentos que utilizamos. Está a ser pensado apenas para casos graves, integrado em estudos clínicos”, apontava em declarações ao PÚBLICO no final de Julho.

Portugal tem 917 casos confirmados desde o início do surto, em Maio deste ano.

Distribuição com base na urgência

Uma das questões que parece estar ultrapassada, em comparação com a compra de vacinas, é a da distribuição. De acordo com as declarações de Janez Lenarčič, no comunicado enviado pela Comissão Europeia, o antiviral será disponibilizado aos países de acordo com a urgência.

Este é um processo que se distingue do que aconteceu com as vacinas de terceira geração contra a varíola. Na primeira aquisição conjunta, anunciada em Junho, Portugal recebeu 2700 doses da Comissão Europeia, naquela que foi a única entrega feita até ao momento. As vacinas viriam, no entanto, a ser consideradas “escassas” pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), principalmente pela intenção de avançar com a vacinação preventiva – autorizada na semana passada.

Esta limitação no acesso às vacinas deve-se ao modo como foram divididas entre os Estados-membros: “Como as doses foram distribuídas per capita – os países maiores tiveram mais doses e os mais pequenos menos, independentemente da dimensão dos casos que estão a sofrer”, comentava Margarida Tavares, no final do mês de Julho.

Até ao momento, nem a Comissão Europeia, nem a DGS explicaram como serão distribuídas as 170 mil doses de vacinas compradas no início de Setembro.

Ensaio clínico em curso

Apesar de a maioria das pessoas infectadas ultrapassar a doença em poucas semanas, esta pode provocar sintomas graves, como dores fortes ou úlceras em várias regiões do corpo.

No final de Agosto, uma equipa de investigadores da Universidade de Oxford (Reino Unido) iniciou um ensaio clínico com pacientes, para avaliar a eficácia do tecovirimat no tratamento do VMPX.

A eficácia do medicamento tem sido testada ao longo dos últimos anos em animais infectados com Orthopoxvirus ou em humanos saudáveis. Agora, este estudo financiado em mais de quatro milhões de euros pelo governo britânico quer recrutar pelo menos 500 participantes para avaliar a capacidade do antiviral ajudar no tratamento das lesões da varíola-dos-macacos, diminuir o período de contágio e reduzir as hospitalizações necessárias devido a complicações de sintomas. Uma parte dos participantes receberá doses de tecovirimat, enquanto outros receberão placebos, por forma a comparar a resposta imunitária de cada paciente (com e sem antiviral).

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