Montenegro quer que Santos Silva use “influência parlamentar” para desbloquear eleição de vice-presidente da AR
Líder do PSD rejeita aproximação ao Chega e assume ter votado em candidatos do PCP e BE.
O líder do PSD, Luís Montenegro, apela de “forma muito serena” ao presidente da Assembleia da República (AR) para que exerça a sua “magistratura de influência parlamentar” com vista a permitir que se concretize a eleição do candidato do Chega à vice-presidência da Mesa da Assembleia da República (AR).
Em declarações aos jornalistas na sede nacional do partido, depois de ter recebido representantes de associações de estudantes do ensino superior, Montenegro rejeitou a ideia de qualquer aproximação ao Chega a propósito do apoio do PSD à eleição do candidato daquele partido mas reiterou a necessidade de que os dois vice-presidentes da Mesa em falta (um do Chega e outro da Iniciativa Liberal) sejam eleitos.
À boleia do resultado das eleições italianas, em que venceu um partido de extrema-direita, o líder do PSD disse lamentar que o apelo do partido à eleição de Rui Paulo Sousa (dirigente do Chega) não tivesse acolhimento junto dos deputados. Nesse sentido, fez outro apelo, agora dirigido a Augusto Santos Silva.
“Quero lançar de forma muito serena, tranquila ao presidente da Assembleia da República, que olhando para a vontade livre e democrática expressa pelos portugueses nas últimas legislativas, aja em conformidade, exerça a sua magistratura de influência parlamentar para que os 229 colegas possam respeitar essa regra básica. Isto não tem nada a ver com aproximações políticas”, afirmou.
Questionado sobre se é a normalização da extrema-direita que lhe permite chegar ao poder, como declarou Catarina Martins, Montenegro considerou ser “um bocadinho anedótico” a coordenadora do BE e o secretário-geral do PCP falarem sobre este aspecto. “Se há normalização de partidos das extremas do espectro político é precisamente o que aconteceu em 2015”, disse, referindo-se à aliança liderada pelo PS com o apoio parlamentar do BE, do PCP e do PEV.
Nessa altura, disse, os candidatos à vice-presidência da Mesa, propostos pelos dois partidos à esquerda do PS, mereceram o apoio de Montenegro: “O PCP e o BE já tiveram vice-presidentes [da AR]. Com o meu voto.”
Já questionado sobre o facto inédito de o PSD fazer um apelo ao voto no candidato do Chega por escrito, o líder social-democrata argumentou que a actual direcção segue “uma linha de transparência e de verdade”. Luís Montenegro foi também inquirido sobre se este apelo ao voto abre a porta a uma futura coligação com o Chega. “Essa questão não tem actualidade nem interesse”, respondeu.
Na passada quinta-feira, o Chega voltou, pela terceira vez, a não conseguir o número de votos suficientes para eleger o candidato apontado à vice-presidência da AR, mantendo-se assim a Mesa a funcionar com apenas dois vice-presidentes (Edite Estrela do PS e Adão Silva do PSD). A Iniciativa Liberal, que também tinha direito a indicar um candidato por ser a quarta força política, também não conseguiu eleger João Cotrim de Figueiredo, em Março passado.
E relativamente ao resultado das eleições italianas deste domingo, Montenegro assumiu uma posição próxima da expressada pela Iniciativa Liberal, manifestando “respeito” pela vontade do povo italiano através de escolhas feitas de forma democrática, embora sinalizando preocupação. “Não somos indiferentes aos resultados e às preocupações que encerram no que diz respeito aos valores europeus e com os quais o PSD se identifica”, afirmou.
“Falha clamorosa” no alojamento universitário
Luís Montenegro acusou o Governo de ter “falhado de forma clamorosa” para com os estudantes universitários já que, em 2018, prometeu duplicar a capacidade nas residências universitárias e quatro anos depois “o número era o mesmo”.
Depois de receber dirigentes das Federações e Associações Académicas e Associações de Estudantes, o líder do PSD comprometeu-se a “confrontar” o Governo com as preocupações transmitidas e a apresentar propostas sobre o problema do alojamento universitário. Outras das preocupações que lhe foram transmitidas incidiram sobre o “reforço das condições para o acompanhamento da saúde mental e o receio de que o plano de investimentos no PRR possa não ser concretizado”.