Três chimpanzés raptados para resgate de um santuário do Congo

Há duas semanas, a responsável do centro de reabilitação de primatas na República Democrática do Congo acordou com um vídeo enviado pelo whatsapp com as imagens de chimpanzés bebés num espaço sujo e desconhecido. Reconheceu Monga, César e Hussein. Os animais tinham sido raptados e os raptores pediam um resgate

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Chimpanzé comum central (Pan troglodytes troglodytes) numa jaula Jean-Michel Labat/ GettyImages

A história já está a correr pelos meios de comunicação de todo o mundo. Trata-se do aterrador caso do rapto e pedido de resgate dos três chimpanzés bebés que viviam no Primate Rehabilitation Center JACKem Lubumbashi, na República Democrática do Congo. Segundo o New York Times, foi a co-fundadora do centro de reabilitação, Roxane Chantereau, que recebeu o vídeo e as mensagens sobre Monga, César e Hussein. “Em três mensagens de voz, os remetentes ameaçaram matar os chimpanzés, a menos que Roxane Chantereau lhes pagasse uma soma de seis dígitos. Ameaçaram também matá-la e raptar os seus dois filhos”, escreve o NYT. Monga, César e Hussein tinham sido raptados.

Primeiro terá chegado o vídeo aterrador: “dois chimpanzés bebés num chão sujo, com mobiliário espalhado e derrubado. O vídeo mostra um terceiro chimpanzé de pé sobre uma cómoda com os braços acorrentados sobre a cabeça”. O vídeo e as mensagens terão chegado cedo, de madrugada, e Roxane Chantereau e o seu marido Franck ​reconheceram imediatamente os animais: Monga, César e Hussein.

O The Telegraph avança que os chimpanzés têm entre 2 e 5 anos de idade e foram raptados no início deste mês do Centro de Reabilitação de Primatas JACK, na calada da noite. “É um pesadelo... foi um desastre”, disse o co-fundador do centro, Franck Chantereau. “Temos enfrentado muitos desafios desde há 18 anos. Mas nunca vivemos nada como isto: o rapto de chimpanzés.”

Monga, a chimpanzé de cinco anos de idade, aparece nas imagens com os braços presos, numa sala de tijolos nus, enquanto o Hussein e César parecem esconder-se no mesmo espaço sujo. “Pode-se ver como eles estão aterrorizados”, refere Franck Chantereau, citado pelo The Times. O cenário, móveis virados do avesso em filmagens dos chimpanzés raptados sugerem uma luta. “Monga é forte e provavelmente tentou mordê-los. Um chimpanzé adulto pode matar um homem”, diz Chantereau,

Segundo esta mesma notícia, César, que tem cerca de dois anos, estava no santuário de JACK apenas há algumas semanas depois de ter sido resgatado de um mercado no remoto no norte da República Democrática do Congo.

Um novo horror

“O tráfico ilegal de animais selvagens é demasiado comum no Congo”, contextualiza a notícia do NYT, acrescentando que num país onde este tráfico já corre desenfreado, “os conservacionistas temem que o resgate de animais se torne uma táctica comum utilizada pelos criminosos”.

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Jean-Michel Labat/GettyImages

“Todos eles tinham tido uma segunda oportunidade, mas agora este novo horror”, disse Chantereau, citado no The Times que esclarece ainda que, geralmente, os compradores pagam cerca de 11 mil euros por um chimpanzé bebé, uma espécie que partilha mais de 98 por cento do seu ADN com os humanos. Tirar um da natureza envolve matar todo o seu grupo familiar de até uma dúzia de indivíduos. Restam hoje 300.000 chimpanzés em África, em comparação com um milhão no início do século XX.

Será, no entanto, primeira vez que se sabe que um primata foi roubado de um santuário em qualquer parte de África e retido para ser resgatado. O centro de reabilitação em Lubumbashi fornece actualmente um abrigo para 40 chimpanzés e 64 macacos de 14 espécies, todos resgatados do comércio ilegal de animais selvagens do Congo.

“Penso que isto mostra como a situação é frágil no nosso país”, diz Adams Cassinga, o fundador da Conserv Congo, um grupo sem fins lucrativos que combate o tráfico de animais selvagens na República Democrática do Congo, citado pelo NYT.

Mas, e agora? O pagamento do resgate, que o casal Chantereau confirma apenas que tem “seis dígitos”, não é uma opção. “Isso colocaria todos os macacos do mundo em maior risco do que eles já estão”, disse Fanck ao The Times que acrescenta que “os chimpanzés são usados para tráfico de partes de corpo do animal e de animais vivos, que se estima valer até 23 mil milhões de dólares por ano e que é conduzido por colectores na Ásia e nos Emirados Árabes Unidos”.

Por agora, o pior é o silêncio

Os responsáveis do centro de reabilitação estão, naturalmente, muito apreensivos. Impotentes, Roxane e Franck Chantereau e outros funcionários têm levado os animais bebés para as suas casas. Mas o pior neste momento é o silêncio.

Segundo a co-fundadora do centro, após as primeiras mensagens os raptores ficaram em silêncio. Chegaram ainda a enviar ameaças, reclamando que sem o pagamento do resgate um dos chimpanzés bebés seria decapitado e os outros dois seriam vendidos a traficantes chineses. Não houve, depois disso, mais tentativas de contacto. Obviamente, os responsáveis do santuário temem o pior.

“Não temos qualquer notícia, o que nos preocupa muito”, diz Roxane Chantereau. As autoridades estarão a tratar do caso. Porém, sobre a noite do rapto existem poucas pistas.

Apesar de todos os contornos desta história e do silêncio aterrador, todos estão a tentar permanecer optimistas agarrando-se ao facto de que a atenção pública que o caso está a merecer possa encorajar os raptores a devolver os três chimpanzés. “Esperamos encontrá-los em frente à porta uma manhã”, diz Chantereau. “Esperamos que eles ainda estejam vivos”.