Hilary Mantel (1952-2022), até ao fim a escrever contra os fantasmas

Achou que seria historiadora mas a busca da perfeição do estilo fê-la escritora. Olhava a ficção enquanto mediação do real. Essa é a maior dádiva de Wolf Hall, que ganhou duas vezes o Booker.

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A escritora britânica Hilary Mantel tinha 70 anos David Levenson/Getty Images

“O homem é lobo para o próprio homem”, a ideia está na génese do nome da residência da família Seymour, Wolfhall. Conforme escreveu Hilary Mantel na espécie de preâmbulo ao primeiro volume da trilogia Wolf Hall, dedicada ao ministro de Henrique VIII, “é uma evocação constante da perigosa natureza oportunista do mundo em que Cromwell se move”. Publicado em 2009, o romance projectou Hilary Mantel como um dos escritores – num plural que inclui o universo literário – mais sólidos e mais completos das letras britânicas. Tinha então 57 anos, dez romances publicados, uma colectânea de contos – Learning to Talk – e um livro de memórias, Giving Up the Ghost. Wolf Hall valeu-lhe o Costa Award e o Man Booker Prize, prémio que voltou a ganhar em 2012, com O Livro Negro, segundo volume da trilogia. Era a primeira mulher a conquistar duas vezes o Booker e um dos quatro autores a conseguirem esse feito, a par com J.M. Coetzee, Peter Carey e J.G. Farrell.

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