Salvini regressou ao “prado sagrado” da Liga a uma semana das eleições

Partido extremista de Matteo Salvini reuniu-se em Pontida, o seu berço histórico e mitológico, quando prepara o regresso ao poder, à boleia de Giorgia Meloni.

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Matteo Salvini em campanha EPA/GIANPAOLO MAGNI

Matteo Salvini vai juntar-se aos seus parceiros da coligação de direita e extrema-direita para encerrar a campanha para as eleições do próximo domingo em Roma. Mas a uma semana da votação que deverá assinalar o seu regresso ao Governo – não como primeiro-ministro, como gostaria, mas na companhia da sua aliada Giorgia Meloni – reuniu o quartel-general da Liga no berço do partido.

Um comício-festa que foi uma espécie de regresso ao passado mais longínquo da Liga, antes da sua liderança, evocando, em simultâneo, os tempos felizes de 2019, última edição da festa de Pontida, interrompida pela pandemia.

Junto a Bergamo, no centro Norte de Itália, Pontida é uma pequena localidade de 3000 habitantes. A festa que a Liga ali realiza anualmente há três décadas ergue-se num descampado à beira da estrada, que o partido converteu oficialmente no seu “prado sagrado” no início dos anos 1990.

Segundo a lenda, foi em Pontida, em 1167, que terá nascido a Liga Lombarda, aliança do Norte contra o imperador Federico Barbarossa. E foi ali, em 1996, que Umberto Bossi, fundador e líder histórico da Liga, proclamou a independência da Padânia, a região mítica em torno da qual se construiu o separatismo do Norte.

Liderar este “país extraordinário seria uma honra e uma alegria”, afirmou Salvini perante a multidão que agitava a bandeira verde da Padânia e bandeiras com as armas das ricas províncias do Norte. “Isto é a Itália, cheia de esperança e de sonhos e a olhar para o futuro”, disse.

Com as últimas sondagens a darem cerca de 12% à Liga (e 25% aos Irmãos de Itália, de Meloni) Salvini prometeu que o próximo governo vai fortalecer a autonomia das regiões, dando-lhe mais voz para decidir como gastar as receitas de impostos locais (tema que pouco diz a Meloni).

Entre a assistência poucos questionaram a liderança de Salvini, mas várias pessoas ouvidas por jornalistas admitiam considerar esgotada a sua estratégia. Foi Salvini que fez da separatista Liga Norte um partido nacional sem apelido, igualmente xenófobo, mas centrado nas críticas à imigração e a Bruxelas (e não a Roma e aos povos do Sul).

Entre 2003, quando assumiu a liderança (de um partido que na altura não ultrapassava os 4% nas sondagens), e 2019, quando venceu as eleições europeias, com 34%, a Liga de Salvini esteve sempre a subir.

A queda tem sido naturalmente difícil de digerir. Em Pontida, às promessas de maior autonomia destinadas a satisfazer os seus eleitores, juntou as suas propostas para reformas tributárias e legais, para travar a subida dos preços da energia e desenvolver a energia nuclear, mas também para impedir a chegada de barcos com requerentes de asilo e imigrantes às costas italianas – o discurso anti-desembarques é a sua imagem de marca, menos repetido desta vez, quando a inflação se tornou na maior preocupação dos italianos.

No fim, garantiu a sua lealdade a Meloni e a Silvio Berlusconi, que com o seu partido, Força Itália, completa a coligação. “Giorgia, Silvio e eu temos as mesmas posições sobre tudo, quase tudo”, afirmou. “E durante cinco anos vamos governar bem juntos.”

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