Com confiança reforçada, Ventura não vai desistir até ser primeiro-ministro

Moção de confiança na direcção foi votada por 590 militantes e aprovada por 97,2% dos votos - só um voto nulo e 15 contra.

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André Ventura prometeu sanear a oposição interna a partir desta segunda-feira. LUSA/PAULO CUNHA

Com a sua moção de confiança aprovada com 97,2% dos votos, André Ventura saiu da Batalha com a liderança e o ego reforçados, o que lhe deu balanço para prometer: “Não vou desistir até ser primeiro-ministro de Portugal.” E se tinha arrancado esta reunião, no sábado, a dizer que queria fazer parte do Governo em 2026, agora já afirma que o vai liderar.

No encerramento da primeira Assembleia Plenária - algo que não está previsto nos estatutos - do partido e do XI Conselho Nacional, o presidente disparou contra os críticos da sua liderança que afinal acabaram por não aparecer no encontro (apesar de Ventura ter dado o beneplácito de a moção poder ser votada por todos os militantes em vez de apenas os conselheiros), prometeu um saneamento imediato, e apontou o alvo a São Bento. Que é o mesmo que dizer a António Costa e ao lugar de chefe do Governo.

Num discurso de cerca de 40 minutos, quase metade foram dedicados a destratar os críticos internos - andando Ventura entre o desdém e o ataque aos “cobardes”. Prometeu, a partir de agora e até às legislativas de 2026 “ignorar quaisquer ataques insignificantes” da oposição interna. E logo a seguir garantiu que não deixará de “apresentar a porta da rua àqueles que andaram a destruir o partido nos últimos meses e anos. E isso começa amanhã mesmo, quando chegar a Lisboa. (...) Rua, rua!” Uma promessa que soou a repetição depois de, horas antes, o coordenador da Comissão de Ética (e também secretário-geral e vogal da direcção) e deputado Rui Paulo Sousa ter recorrido a linguagem mais informal para dizer aos opositores internos de Ventura: “Vão para o raio que os parta; rua daqui para fora!”

Ventura voltou a apresentar-se como o mártir que dá o seu corpo e sangue pelo partido e como o Messias que nasceu para travar a luta contra o socialismo e “salvar Portugal”, e disse ter uma missão para concretizar e um destino para cumprir. Mas ao mesmo tempo afirmou que ele e os militantes do Chega são “indestrutíveis”. O seu dever, “com sangue e suor”, é levar o “comboio da história” de Portugal por diante e a próxima paragem é em 2026, no Palácio de São Bento para “destituir” o primeiro-ministro. “Vamos ser Governo de Portugal”, garantiu.

O líder do Chega convocou o partido e anunciou uma moção de confiança no auge da polémica com o deputado Gabriel Mithá Ribeiro, vice-presidente, coordenador do gabinete de estudos e autor da revisão do programa, por considerar então ser evidente que havia no Chega “uma facção”, que dizia ser minoritária, que contestava a actual direcção.

Durante os dois dias de debate na Batalha passaram pelo palco uma centena de militantes e todos os deputados, com o tom sempre nas mesmas notas: a defesa incondicional de André Ventura - com o expoente nas palavras da jovem deputada Rita Matias, que viu representadas no líder as chagas de Cristo que estão na bandeira nacional - e o julgamento dos críticos internos. Os nomes muito raramente foram pronunciados - mas epítetos muito variados, de “ratos” a “cobardes” - embora o clamor fosse sempre o mesmo: que sejam expulsos do partido.

De acordo com dados da direcção do partido, participaram na votação 590 militantes, dos quais 574 votaram a favor da moção de confiança, representando 97,28% do total, 15 contra e houve um voto nulo. Ventura teve, assim, a reconfirmação da liderança que queria para o resto do mandato - que, pelos estatutos termina no final de 2025, quase um ano antes das próximas eleições legislativas. A menos que na próxima refrega interna volte a demitir-se e force eleições (pela quarta vez).

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