Como é que num país republicano há mais de cem anos corre tanta tinta e tanta emoção com a morte de uma rainha? O que explica o interesse por histórias de reis e princesas, duquesas e condes, especificamente britânicos? No início de uma semana que já se adivinhava longa, conversei com o advogado e cronista do PÚBLICO Francisco Mendes da Silva e com a jornalista Ana Sá Lopes sobre os sentimentos que nos despertam a monarquia inglesa.
Enquanto isso, no Reino Unido, o corpo da rainha foi transportado de Edimburgo para Londres e acompanhado num cortejo fúnebre do Palácio de Buckingham para as Casas do Parlamento, em Westminster, com os filhos, Carlos, Ana, André e Eduardo, e os netos Peter Phillips, William e Harry a acompanharem o caixão a pé.
O filho mais velho de Carlos e herdeiro da coroa viria a confessar que a caminhada tinha constituído um enorme desafio. "Trouxe-me de volta algumas memórias", disse, aludindo ao momento, na imagem em baixo, em que, com apenas 15 anos, teve de o fazer atrás do caixão da mãe, Diana, que morreu na sequência de um acidente de viação.
Até à próxima madrugada, as portas de Westminster Hall permanecem abertas para os milhares de pessoas que pretendem fazer uma última vénia à monarca, tendo chegado a atingir a sua capacidade máxima, de 16 quilómetros. Neste domingo de manhã, a espera estimada era de quase 14 horas.
Mas a morte de Isabel II, sentida por muitos como uma perda pessoal, vai além da coroa — tendo estado no trono durante mais de 70 anos, a monarca entra para um rol de personalidades que se transformam em "pontos de referência", como explicou a conselheira Maria do Céu Martins a André Certã, que tentou perceber porque sentimos o luto de pessoas com as quais nunca nos cruzámos pessoalmente.
O psicólogo clínico Carlos do Céu e Silva defende que o luto colectivo surge com a criação de um "vazio geracional". "Os companheiros geracionais que fizeram parte da nossa cultura, do nosso crescimento intelectual, do nosso crescimento emocional, estão a deixar de existir. E, ao deixarem de existir, há um sentimento de fim de geração." Recentemente, isso aconteceu com Isabel II, mas também com o "imortal" Jean-Luc Godard ou a diva dramática grega Irene Papas.
Nem tudo, porém, se pode celebrar na vida desta monarca, lembra o cronista Gustavo Carona, lembrando que durante o reinado de Isabel II houve muitos espinhos, apontando o dedo a todo o sangue que envolveu a saída das ex-colónias: "A monarquia inglesa escravizou, traficou gente, roubou, pilhou e matou a seu belo prazer. É isto que eles representam...".
Mas haverá quem defenda que há sangue novo nas casas reais europeias que poderão alterar a premissa da monarquia de que há classes superiores e classes inferiores, como as plebeias Kate, a nova princesa de Gales, que se prepara para ser rainha do Reino Unido, e Letizia, uma jornalista divorciada que é hoje rainha de Espanha ao lado de Felipe VI e que, esta semana, celebrou os 50 anos.
Vale a pena ler ainda a entrevista que a Mariana Marques Tiago fez a Capicua a propósito do lançamento de Aquário (ed. Penguin Random House), que lhe contou que escreve "para digerir as dores da existência", ou a história de um menino de 10 anos que viu a sua banca de scones roubada de frente de casa, mas contou com a ajuda da comunidade para reerguer o negócio que, agora, vai de vento em popa.
E, numa semana desafiante para milhares de pais, com o arranque do ano lectivo e com todos os constrangimentos associados, desde o regresso às rotinas até à falta de professores, sem esquecer as ansiedades da entrada numa nova escola, uma boa notícia para quem um bebé chorão (para gémeos, diz-me a experiência, funciona ligar o aspirador ou mesmo o secador de cabelo — ou, mais recentemente, o smartphone, já que há apps com estes sons específicos): há uma receita científica para adormecer crianças a chorar, concluiu um estudo publicado na Current Biology.
O segredo? Caminhar com o bebé ao colo durante cerca de 5 minutos e, de seguida, mantê-lo ao colo na posição sentada durante cerca de 8 minutos. Não só o acalma como permite que não acorde no instante em que o deitamos.
Uma boa semana!
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