Biden quer fim da “imunidade especial” das redes sociais contra discurso de ódio
Numa cimeira sobre o extremismo e os crimes de ódio nos Estados Unidos, o Presidente norte-americano anunciou uma iniciativa para “construir pontes entre cidadãos de diferentes origens”, com o apoio das fundações de quatro ex-Presidentes dos EUA.
O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, apelou aos cidadãos norte-americanos que se manifestem contra o racismo e o extremismo, e prometeu pressionar o Congresso do país no sentido de haver uma maior responsabilização das redes sociais pela disseminação do ódio. “Os supremacistas brancos não terão a última palavra”, afirmou Biden, na Casa Branca, durante uma cimeira com líderes políticos, especialistas e sobreviventes de crimes de ódio.
Numa intervenção em que recuperou as suas recentes denúncias da onda de extremismo nos EUA, em particular dos grupos racistas e ultranacionalistas que voltaram a ganhar protagonismo na sequência da eleição de Donald Trump como Presidente do país, em 2016, Biden acusou a classe política e os media de estarem a fornecer “muito do oxigénio” que alimenta esse clima.
“É muito importante que continuemos a gritar”, disse Biden. “É muito importante dizer que isto não reflecte quem nós somos.”
Durante a cimeira, os participantes homenagearam algumas das comunidades que sofreram crimes de ódio nos últimos anos, desde os 49 mortos numa discoteca frequentada por gays em Orlando, na Florida, em 2016, ao ataque num supermercado em Buffalo, no estado de Nova Iorque, em Maio, em que dez negros foram mortos por um supremacista branco.
A intervenção de Biden foi precedida por um discurso de Susan Bro, a mãe de Heather Heyer, a jovem que foi atropelada mortalmente durante uma manifestação de supremacistas brancos em Agosto de 2017, em Charlottesville, no estado da Virgínia. “A morte dela teve repercussões em todo o mundo, mas o ódio não começou nem terminou nesse momento”, disse Bro.
Um dos momentos mais aplaudidos no discurso de Biden foi a promessa do Presidente dos EUA de que vai pressionar o Congresso “a responsabilizar as redes sociais por espalharem o ódio”.
“Apelo ao Congresso que acabe com a imunidade especial de que beneficiam as redes sociais, e que imponha exigências de transparência muito mais fortes a todas elas”, disse Biden.
A cimeira sobre o discurso de ódio e os crimes contra minorias aconteceu poucas semanas depois de o Presidente dos EUA ter afirmado, num discurso em Filadélfia, que os republicanos apoiantes de Donald Trump — os “republicanos MAGA”, numa referência ao slogan Make America Great Again — são uma ameaça à democracia.
Na quinta-feira, Biden comentou as críticas com que esse seu discurso foi recebido, incluindo na secção de opinião de jornais como o Washington Post. “Silêncio é cumplicidade; não podemos ficar calados”, disse Biden.
O Presidente norte-americano anunciou também uma iniciativa de mil milhões de dólares (sensivelmente o mesmo valor em euros), financiada por filantropos e com o apoio das fundações dos ex-Presidentes dos EUA Barack Obama, George W. Bush, Bill Clinton e Gerald Ford, para “construir pontes entre cidadãos de diferentes origens”.
Várias empresas de tecnologia aderiram à cimeira. Os representantes do YouTube disseram que estão a reforçar os seus esforços de combate ao extremismo, através da remoção de conteúdo que glorifica actos violentos com o objectivo de inspirar outras pessoas a cometer crimes, angariar fundos ou recrutar militantes.
E a Microsoft disse que está a expandir o uso de inteligência artificial para detectar ameaças credíveis de violência, e a usar jogos de vídeo para fomentar a empatia.