Putin reúne-se com Xi e agradece “posição equilibrada” da China sobre a Ucrânia
O Presidente russo “condena” a atitude de “provocação” dos EUA no que diz respeito a Taiwan e critica o Ocidente pelas “tentativas para criar um mundo unipolar”.
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O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse esta quinta-feira ao líder chinês Xi Jinping que Moscovo apoia a política de “Uma China” de Pequim, relativa a Taiwan, que se opõe às “provocações” dos Estados Unidos no Estreito de Taiwan e que valoriza a “posição equilibrada” da China em relação à Ucrânia.
Os dois líderes reuniram-se à margem da cimeira da Organização para a Cooperação de Xangai, no Uzbequistão. Foi a primeira reunião cara a cara desde que a Rússia lançou a sua “operação militar especial” na Ucrânia, a 24 de Fevereiro.
Em declarações transmitidas em directo antes do encontro com o seu homólogo chinês, Putin disse: “Valorizamos muito a posição equilibrada dos nossos amigos chineses em relação à crise na Ucrânia. Compreendemos as suas dúvidas e preocupações. Durante o encontro de hoje, vamos explicar a nossa posição”. Acrescentou que “condena” a atitude de “provocação” por parte dos EUA, no que diz respeito a Taiwan, e a atitude do Ocidente por ser protagonista de “tentativas para criar um mundo unipolar”.
Putin apoiou também as posições de Pequim na sua breve declaração pública, nomeadamente em relação a Taiwan. “Apoiamos com firmeza o princípio de ‘Uma China’, disse o Presidente russo, acrescentando que a Rússia “condena as provocações dos Estados Unidos e dos seus satélites no Estreito de Taiwan”.
Para além disto, disse acreditar que “a aliança ‘Moscovo-Pequim’ desempenha um papel fundamental na garantia da estabilidade global e regional”, informou a agência de notícias estatal russa TASS.
Xi Jinping, por sua vez, sublinhou que a China está pronta para trabalhar com a Rússia para trazer “estabilidade e energia positiva a um mundo caótico”. “Putin é um velho amigo da China”, acrescentou o líder.
Na sua primeira viagem para fora da China desde o início da pandemia de COVID-19, Xi chegou à Ásia Central na passada quarta-feira, apenas um mês antes de o Partido Comunista consolidar seu lugar como o líder chinês mais poderoso desde Mao Tsetung. “Os presidentes vão discutir tanto a agenda bilateral quanto os principais tópicos regionais e internacionais”, disse o assessor de política externa de Putin, Yuri Ushakov, a repórteres em Moscovo na passada terça-feira.
Ushakov acrescentou que os líderes discutirão a Ucrânia e Taiwan na reunião que, segundo ele, terá um “significado especial” dada a situação geopolítica actual. A última vez que Xi e Putin se encontraram pessoalmente, poucas semanas antes de a Rússia invadir a Ucrânia em 24 de Fevereiro, declararam uma parceria “sem limites” e assinaram uma promessa de colaborar mais contra o Ocidente.
Embora a Rússia e a China tenham sido rivais no passado e tenham travado guerras, Putin e Xi partilham uma visão de mundo que vê o Ocidente como decadente e em declínio, em que a China desafia a supremacia dos Estados Unidos, afirma Alexander Korolev, professor de Política e Relações Internacionais da Universidade de Nova Gales do Sul em Sydney, citado pela Reuters.
A visita “atesta que a China está disposta não apenas a continuar as suas negociações com a Rússia, mas também a mostrar apoio explícito e acelerar a formação de um alinhamento China-Rússia mais forte”, acrescentou o professor.
Enquanto a Europa se tenta afastar do petróleo e do gás russos, Putin procura aumentar as exportações de energia para a China e para a Ásia, possivelmente com um oleoduto através da Mongólia. Putin, Xi e o Presidente da Mongólia, Ukhnaa Khurelsukh, discutirão a parceria durante a cimeira em Samarcanda.
“Meu velho amigo”
A parceria Xi-Putin é considerada um dos desenvolvimentos mais significativos na geopolítica após a ascensão da própria China nos últimos 40 anos. Xi, filho de um revolucionário comunista que elogiou publicamente as jóias da literatura russa, e Putin, que nasceu em Leninegrado, actualmente São Petersburgo, e que integrou a KGB da era soviética, afirmaram que trabalhariam juntos sem qualquer entrave.
Contudo, a guerra na Ucrânia destacou as diferentes trajectórias da China e da Rússia: de um lado está uma superpotência em ascensão cuja economia deve ultrapassar os Estados Unidos dentro de uma década; do outro está uma antiga superpotência a travar uma guerra desgastante.
Outrora líder na hierarquia comunista global, a Rússia, após o colapso da União Soviética em 1991, é agora uma grande parceira de uma China ressurgente que, inclusivamente, já lidera em alguns campos das tecnologias do século XXI, como a inteligência artificial, a medicina regenerativa e os polímeros condutores.
“Diante das mudanças no mundo, tanto actualmente como ao longo da história, a China está disposta a trabalhar com a Rússia para desempenhar um papel de liderança na demonstração da responsabilidade das grandes potências e para instalar a estabilidade e num mundo em turbulência”, disse Xi a Putin.