Cineasta e fotógrafa Nan Goldin recebe honoris causa pela Universidade Lusófona do Porto
Norte-americana será homenageada a 28 de Novembro. Nan Goldin dará ainda duas masterclasses, a primeira no Porto e a segunda em Lisboa.
A Universidade Lusófona do Porto vai atribuir o grau de doutoramento honoris causa a Nan Goldin, uma “autora incontornável da fotografia contemporânea”, disse à Lusa um responsável pela iniciativa.
“É uma grande autora do nosso tempo, confundiu a questão íntima com a questão política, soube confundir com sabedoria o que é da ordem do íntimo e da ordem do político e que o íntimo é político e que o político é íntimo”, afirmou o director da licenciatura de Comunicação, Audiovisual e Multimédia da Universidade Lusófona do Porto, João Sousa Cardoso.
A distinção à cineasta e fotógrafa norte-americana vai ser entregue a 28 de Novembro, no âmbito do doutoramento em Comunicação e Activismos da Universidade Lusófona, estando também integrada no programa uma primeira masterclass, a 29 de Novembro, no Porto, e uma segunda, a 5 de Dezembro, em Lisboa.
Nan Goldin, que é a convidada da décima segunda edição do Multiplex, festival de cinema da Universidade Lusófona do Porto, é, segundo João Sousa Cardoso, “uma autora incontornável” da fotografia contemporânea. O festival, a decorrer nos dias 29 e 30 de Novembro, terá um ciclo retrospectivo da obra da criadora norte-americana, numa parceria com o Teatro Municipal do Porto.
“É uma pioneira a tratar temas da sociedade, como a comunidade LGBTQI+, a questão das drogas, a subcultura, uma série de direitos civis, de que foi sempre militante. Desde os anos 70 que nos mostra que falar de sexualidade, de desejo, de amor, de comunidades afectivas é fundamental para se falar da cidade, da sociedade contemporânea. E ela fê-lo em Nova Iorque como ninguém, desde os anos 70”, salientou.
Para este professor, Nan Goldin “é uma mulher que fez o diagnóstico de um mundo que explodiu a partir de 1969, com a repressão policial da comunidade gay em Nova Iorque”, depois da qual “a comunidade LGBTQI+ toma a rua, torna a sua voz pública e mostra que não tem medo, que não tem vergonha. Pelo contrário, [mostra] que é uma voz activa que se ergue na sociedade”.
Outra característica que João Sousa Cardoso distinguiu na fotógrafa foi a relação que mantém com quem fotografa: “Só retrata as pessoas com quem tem uma relação profunda, construída no tempo. Ela não é uma voyeur, não fotografa uma ‘fauna’ qualquer que podia ser exótica para uma criação estética. Há uma ética em Nan Goldin que é fotografar só as pessoas que ama”, referiu.
Nascida em 1953, em Washington D.C., Nan Goldin destaca-se pela obra autobiográfica, uma obra que documenta a sociedade que a rodeia, desde o cenário do new-wave pós-punk, à subcultura gay e à comunidade LGBTQI+, passando pelo aparecimento do HIV nas grandes cidades e pelo consumo de droga.
A obra de Nan Goldin é apresentada em instituições como o Museum of Modern Art (MoMA) e o Metropolitan Museum, ambos em Nova Iorque, o Museum of Contemporary Art e o Getty Museum, em Los Angeles; o Art Institute de Chicago, a National Gallery em Camberra (Austrália), a Tate Modern (Reino Unido) e o Centre Georges Pompidou (França).
Distinguida com a Medalha da Ordem das Artes e das Letras pelo Governo francês, em 2006, recebeu também a Centenary Medal da Royal Photographic Society (Londres), em 2018, e o título de Membro Honorário.
No passado fim-de-semana, o documentário All the Beauty and the Bloodshed, de Laura Poitras, sobre o trabalho de Nan Goldin, foi distinguido com o Leão de Ouro, prémio máximo do festival de cinema de Veneza.