Fundador da Patagonia doa empresa a fundo solidário para combater a crise climática

O empresário Yvon Chouinard, de 83 anos, resolveu doar a sua empresa a uma organização não-governamental dedicada a combater a crise ambiental. “Vamos dar o máximo de dinheiro possível às pessoas que estão a trabalhar activamente na salvação deste planeta”, afirmou o empresário.

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Yvon Chouinard com uma costureira, em 1974 Gary Regester
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Logótipo actual da Patagonia Ajay Suresh

O fundador da marca Patagonia decidiu doar a empresa a um fundo solidário que usará os seus lucros anuais para combater a crise climática. Isto significa que, dos 1,5 mil milhões de dólares que esta empresa de vestuário de actividades ao ar livre ganha por ano, cerca de 100 milhões de dólares poderão ser usados para causas ambientais.

Desta forma, “em vez de extrairmos o valor da natureza e de o transformarmos em riqueza, vamos utilizar a riqueza gerada pela Patagonia para proteger a fonte”, disse o multimilionário Yvon Chouinard, conhecido por ser ambientalista e um entusiasta do alpinismo, citado pela BBC.

A empresa fundada em 1973, com sede na Califórnia, já doava 1% dos seus lucros anuais a causas ambientais, além de que desde o início vinha a adoptar recursos sustentáveis nas suas roupas, como algodão orgânico. Mas, numa carta aberta aos clientes da empresa, Yvon Chouinard explicou que estava na hora de fazer mais pelo planeta.

“Apesar da sua imensidão, os recursos da Terra não são infinitos, e é evidente que excedemos os seus limites”, defendeu o empresário, que ponderou várias alternativas antes de divulgar a decisão final: uma era vender a empresa e doar o valor a fundos solidários, a outra era abrir o capital da empresa na bolsa, recolhendo lucros milionários que seriam doados. Um grupo de trabalho explorou ainda a possibilidade de a transformar numa cooperativa ou numa entidade sem fins lucrativos.

No entanto, “mesmo as empresas cotadas que tenham boas intenções estão sob demasiada pressão para criar ganhos a curto prazo à custa da vitalidade e da responsabilidade a longo prazo”, sublinhou Chouinard, acrescentando que não tem “qualquer respeito pela bolsa”, que tende a tornar as “empresas irresponsáveis”.

É por isso que acabaram por transferir a propriedade da empresa, cujo valor ascende a 3 mil milhões de euros, para duas novas entidades, preservando assim a sua independência, responsabilidade social e assegurando que o lucro chega aos locais certos. “Todos os anos, o dinheiro que ganharmos depois de reinvestirmos no negócio será distribuído como um dividendo para ajudar a combater a crise climática”, afirmou o multimilionário.

Desde Agosto deste ano que 98% da empresa está, assim, nas mãos da Holdfast Collective, uma organização não-governamental norte-americana dedicada a combater a crise ambiental. Já os restantes 2% são controlados pelo recentemente criado Patagonia Purpose Trust, que é liderado pela família de Chouinard e que tem a missão de garantir que a empresa cumpra as suas novas responsabilidades solidárias.

“Espero que isto influencie uma nova forma de capitalismo cujo cenário final não seja alguns ricos e um monte de pobres”, disse Chouinard numa entrevista exclusiva ao New York Times, que revela que a doação custou à família mais de 17 milhões de dólares em impostos. “Vamos dar o máximo de dinheiro possível às pessoas que estão a trabalhar activamente na salvação deste planeta”.

Com esta decisão, Yvon Chouinard, a sua mulher e os dois filhos tornam-se numa das “famílias mais solidárias” dos EUA, escreve o jornal norte-americano. Apesar de ter um património líquido de 1,2 mil milhões de dólares, o americano de 83 anos é conhecido por viver de uma forma diferente dos demais empresários, sem telemóvel nem computador, e vivendo em casas modestas. “Eu fui considerado pela revista Forbes como multimilionário, o que me chateou mesmo muito. Não tenho mil milhões de dólares no banco e não conduzo um Lexus”, afirmou.