Extrema-direita sueca alcança resultado histórico e passa a ser indispensável
O forte discurso anti-imigração dos Democratas Suecos rendeu-lhes o segundo lugar nas eleições legislativas. Resultados definitivos ainda estão por apurar, mas direita está próxima da maioria.
Mais de 24 horas depois de os suecos terem votado nas eleições legislativas ainda não é possível vislumbrar um quadro definitivo para o arranjo de forças políticas no Parlamento. Os resultados preliminares sugerem uma vitória do bloco que une as forças de direita, mas o partido mais votado deverá ser o Social Democrata, de centro-esquerda.
A principal certeza quanto aos resultados das legislativas de domingo é a de que os Democratas Suecos, de extrema-direita, alcançaram uma votação histórica, tornando-se na segunda força política com mais representação no Parlamento. Por outro lado, o eleitorado também fortaleceu a posição dos Sociais Democratas, da actual primeira-ministra, Magdalena Andersson, que foi o partido mais votado, com mais de 30% dos votos. Porém, sem uma maioria parlamentar do bloco de esquerda será difícil que um novo executivo social-democrata venha a ser viabilizado.
Com cerca de 95% das urnas contabilizadas até esta segunda-feira de manhã, os dois blocos estavam separados apenas por um deputado, com vantagem para a direita. As autoridades eleitorais dizem que é necessário aguardar pela contagem dos votos por correspondência até que os resultados definitivos sejam apurados, algo que não deve acontecer antes de quarta-feira.
A indefinição não impediu o líder dos Democratas Suecos, Jimmie Akesson, de celebrar o resultado histórico do seu partido. “Os Democratas Suecos tiveram umas eleições fantásticas”, afirmou, através do Twitter. “Estamos preparados para participar construtivamente na mudança de poder e num novo começo para a Suécia”, acrescentou.
Aconteça o que acontecer, o papel dos Democratas Suecos numa futura solução governamental será enorme. Com cerca de 20% dos votos (obteve 17,5% em 2018), o partido que teve nas suas origens movimentos neonazis terá a oportunidade de, no mínimo, vir a influenciar um executivo de centro-direita que venha a tomar posse.
Não é certo que o partido de extrema-direita venha a integrar formalmente o Governo – vários partidos do bloco de direita prometeram não formar Governo com os Democratas Suecos –, mas como partido mais representativo na ala direita do Parlamento terá o poder para viabilizar ou chumbar a maioria das iniciativas legislativas. Caso a contagem definitiva dos votos confirme a maioria dos partidos de direita, tudo aponta para que seja formado um Governo minoritário composto pelos Moderados, Democratas Cristãos e Liberais, com apoio parlamentar da extrema-direita.
Esperam-se negociações intensas nos próximos meses e os analistas não antecipam a tomada de posse de um novo Governo no curto prazo. “Num sistema multipartidário fragmentado encontrar uma coligação governamental estável está a tornar-se cada vez mais difícil”, disse à Reuters o investigador do Instituto de Pesquisas Sociais de Oslo, Johannes Berg.
O resultado histórico dos Democratas Suecos, que desde a sua entrada no Parlamento em 2010 aumentaram sempre a sua representação, reflecte o sucesso crescente do discurso fortemente anti-imigração propagado pelo partido. Apesar de ter sofrido um processo de moderação desde que Akesson assumiu a liderança do partido, incluindo a mudança da imagem e a expulsão de militantes neonazis e abertamente racistas, o programa dos Democratas Suecos rompe com a cultura de tolerância e multiculturalismo que foi consensual na Suécia nas últimas décadas.
A campanha eleitoral que antecedeu as eleições de domingo foi dominada pelo tema da imigração e do acolhimento de estrangeiros pelo país escandinavo. O partido decorou carruagens do metro com as suas cores e um porta-voz designou-o como o “comboio do repatriamento” com “destino a Cabul”.
“Os Democratas Suecos são hoje de longe o maior partido do mundo com raízes nazis”, disse ao Guardian o professor da Universidade Karlstad, Tobias Hübinette. O partido “vê-se como a única força política capaz de salvar a população maioritária branca sueca”.
A coincidência da campanha com uma sucessão de incidentes violentos que envolveram gangues de crime organizado em várias cidades suecas, rapidamente relacionados com as comunidades imigrantes, também fortaleceu a mensagem da extrema-direita.
Independentemente da composição do próximo Governo, o processo de adesão da Suécia à NATO decidida há alguns meses como resposta à invasão da Ucrânia pela Rússia terá continuidade. Todos os principais partidos da esquerda à direita concordam quanto à necessidade de pôr fim à histórica política de neutralidade militar da Suécia, assim como em relação à prioridade no aumento de gastos com a defesa.