Confinamentos na China provocam escassez de alimentos e de bens essenciais

Intolerância perante a política “covid zero” aumenta e já foram detidas pessoas por “espalhar rumores”. Os impactos da política na economia chinesa são incalculáveis, tal como na saúde mental da população.

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Cidadãos entregam comida a familiares através de barreiras que ajudam ao isolamento de certas regiões Reuters/ALY SONG

A imposição da política “covid zero” na China está a provocar escassez de alimentos e de bens de primeira necessidade, e vários focos de protesto, em pelo menos 30 regiões do país, numa altura em que dezenas de milhões de pessoas estão obrigadas a ficar em casa para a contenção de vários surtos de covid-19 locais. Esta segunda-feira foram registados mais de 900 novos casos em todo o país.

A imposição de confinamentos totais ou parciais acontece numa altura que as autoridades estão a lutar para conter surtos locais antes do importante 20.º Congresso do Partido Comunista Chinês, agendado para meados de Outubro.

O congresso ocorre uma vez a cada cinco anos e reunirá pela primeira vez desde o início da pandemia. Os membros funcionários do partido estão sob pressão para garantir que o evento ocorre sem problemas.

A política de “covid zero”, que tem vindo a ser implementada em todo o lado na China, implica confinamentos rigorosos – mesmo que apenas um número reduzido de casos seja registado. Estes bloqueios impedem que os surtos localizados se espalhem, mas estão a ter um enorme impacto económico e psicológico sobre a população e a provocar uma rara dissidência popular.

Na província de Xinjiang, junto à fronteira com o Cazaquistão, um confinamento de semanas fez, inclusivamente, com que os residentes pedissem ajuda nas redes sociais.

Uma publicação de um cidadão mostra homem uigure emocionado, reclamando com o facto de os seus três filhos não comerem há três dias. Na cidade de Yining, capital de Ili, foi amplamente divulgado um documento com mais de 300 pedidos urgentes de alimentos e medicamentos

“Estou sem dinheiro para comprar o que quer que seja. A minha mulher está grávida e temos dois filhos. Estamos a ficar sem gasolina e a minha mulher precisa de um exame médico”, disse outro residente citado pela BBC. A região tem uma população mista de residentes chineses han, cazaques e uigures.

Gulnazar, um outro residente da região revelou ao Washington Post: “Estamos fechados em casa há mais de 40 dias. Estamos com falta de tudo, especialmente de comida. Há tantas dificuldades, que me apetece chorar só de mencioná-las.” Acrescentou ainda que as autoridades locais trancaram a porta do apartamento do lado de fora e que só a abriram quando os médicos vieram fazer testes de coronavírus.

O governo de Ili pediu desculpa na sexta-feira por problemas na resposta aos confinamentos, mas também rejeitou alguns relatos e rumores – incluindo o de um suicídio de um idoso. A polícia de Ili anunciou, no passado domingo, que quatro pessoas tinham sido punidas com cinco a dez dias de detenção por “espalhar rumores” sobre o confinamento, e avisou os cidadãos para terem mais cuidado com as suas palavras.

Na província de Guizhou, no Sudoeste da China, as autoridades bloquearam uma área da capital provincial, Guiyang, sem aviso, deixando cerca de 500 mil pessoas em casa e sem qualquer hipótese de se prepararem para o confinamento. Os elevadores foram desligados nos prédios para impedir as pessoas de sair, informa o Guardian.

“Não podemos comprar coisas online porque eles não entregam e os supermercados estão fechados. O Governo a tratar-nos como animais, ou eles só querem que morramos?” questionou-se um cidadão citado pelo jornal britânico.

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