Carlos César pressiona Costa e volta a pedir ao Governo que taxe lucros extraordinários das empresas
O presidente do PS pediu ao Governo que ponha também as empresas que têm tido lucros extraordinários a pagar a crise. Até agora só foi apresentado o pacote destinado às famílias. Sobre as medidas destinadas às empresas ainda não há certezas.
Dois dias depois de António Costa ter anunciado as medidas de apoio às famílias para combater os efeitos do aumento da inflação, o presidente do PS, Carlos César, também quis deixar as suas soluções: para o país e para o partido. Discursando perante uma plateia de jovens socialistas na sessão de abertura da Academia Socialista, na Batalha, Carlos César rejeitou as acusações que têm sido feitas aos socialistas e afirmou que não houve “truques” de ilusionismo (uma acusação que por estes dias o Governo tem recebido devido à actualização e antecipação do pagamento de pensões).
O dirigente socialista procurou direccionar aquela que deve ser a estratégia do PS neste ciclo político - com “sucessivas eleições” - e salientou que mais do que “atacar a extrema-direita” é preciso “ouvir e atender as pessoas” e “governar bem”. E pressionou Costa, ao voltar a defender que as empresas que estão a ter lucros extraordinários graças à crise devem ser taxadas (sendo que o primeiro-ministro tem resistido a esta solução), depois de no último mês ter afirmado que era “necessário ir mais além” no reforço dos apoios às famílias e empresas e contra os “que lucram com a crise inflacionária”. Até agora ainda só foi conhecido o pacote destinado às famílias. Sobre as medidas destinadas às empresas ainda não há muitos detalhes.
No arranque destes quatro dias de formação e reflexão política destinados aos jovens do PS, o socialista começou por tecer considerações sobre a melhor forma de combater o populismo e, em particular, a extrema-direita, numa alusão ao que se tem passado no Parlamento.
Sem dizer o nome de Augusto Santos Silva, socialista e presidente da Assembleia da República, Carlos César deixou “um aviso” (expressão do próprio) e pediu ao PS que não coloque “o carro à frente dos bois” em relação a uma candidatura presidencial, como quem dá nota que não vê com agrado que o debate sobre uma futura candidatura ao Palácio de Belém (em que Santos Silva tem sido apontado como potencial candidato) já ocupe a agenda política. “O aviso é este: não é colocando, como às vezes vejo, por exemplo, no caso das eleições presidenciais, o carro à frente dos bois que ultrapassaremos com êxito essas sucessivas eleições”, afirmou.
O sucesso socialista, contrapôs, dependerá do “bom desempenho na satisfação das necessidades e das ambições dos portugueses”. E, em plena maioria absoluta, há que olhar para o “exigente calendário eleitoral”. “Para o ano na Madeira, no ano seguinte as eleições regionais dos Açores e do Parlamento Europeu. A seguir, ainda em 2025, as eleições para as autarquias locais. E em 2026, antes ainda antes das eleições legislativas nacionais, teremos as eleições presidenciais”, recordou. E a solução deverá ser “de olhos bem abertos e ouvidos bem atentos, governar bem, governar com orientação, governar com disciplina, ou seja, com critério”, defendeu.
"Não houve truques"
Porém, embora “a prioridade sejam as pessoas”, Carlos César defendeu que é preciso respeitar as metas traçadas pelo ministro das Finanças e a intenção de garantir que a dívida portuguesa continuará a diminuir. “Não se brinca com o Orçamento, embora a nossa prioridade sejam as pessoas”, disse. E defendeu o pacote apresentado pelo primeiro-ministro e secretário-geral do PS, que o Governo disse custar 2400 milhões de euros, pedindo que se reavalie “em permanência as disfunções e os desequilíbrios que entretanto foram ocorrendo”, nomeadamente no caso das pensões, onde Carlos César reiterou que “não houve truques”.
Se por um lado o presidente do PS considerou o pacote de medidas “ousado no contexto português”, por outro o dirigente socialista afirma que é preciso mais e que o Governo terá “obrigatoriamente, de proceder no futuro”. “A verdade é que a tudo isso poderão ainda somar as medidas e os apoios que resultarão do Orçamento do Estado para 2023”, considerou Carlos César. E defendeu que devem existir outros apoios excepcionais no próximo ano.
Ainda na lista de pedidos (e recados) para o Governo, o dirigente socialista insistiu numa medida que tem vindo a ser afastada pelo Governo: taxar empresas que lucram com a crise da inflação. “É importante que esse sinal seja dado, não só pela arrecadação correspondente, mas pelo sinal político que isso representa para a esmagadora maioria das empresas portuguesas. Não pode haver empresas que lucram fabulosamente com a desgraça e insatisfação dos outros”, avisou.
Esse sinal de esperança deve ser capitalizado com a maioria absoluta que o PS tem nas mãos, para não perder ritmo para as próximas eleições, afirmou. “Com maior ou menor inflação, o que nos cabe fazer com esta maioria é continuar a ajudar quem precisa, continuar a encorajar quem desanima, apoiar quem empreende e cumprir compromissos”, disse. Resumidamente, “olhar o presente do país sem tirar os olhos do futuro”, concluiu.
Antes, Carlos César já se tinha atirado à oposição à direita, criticando o PSD por ter sido o primeiro a entregar “um pacotinho de medidas”. “O que eles nos podem ensinar hoje, nós já conhecemos do passado e isso não constitui um ensinamento útil”, referiu, apelidando o líder do PSD, Luís Montenegro, de caloiro que “ainda não estudou o que se está a passar”. com Lusa