Ao ritmo actual, serão precisos 286 anos para mulheres alcançarem igualdade de direitos

Relatório da ONU Mulheres calcula que pode levar “décadas, até séculos”, até que mulheres estejam em pé de igualdade com os homens. Pandemia fez as mulheres perder rendimentos e e a participação nos mercados de trabalho.

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As mulheres perderam cerca de 800 mil milhões de dólares em rendimentos em 2020 devido à pandemia Chor Sokunthea/Reuters

A ONU Mulheres alertou esta quarta-feira que, com o actual ritmo de progresso, levará 286 anos para que as mulheres tenham os mesmos direitos e protecções legais que os homens.

“Pode levar até 286 anos, quase três séculos, para que as mulheres tenham os mesmos direitos e protecções legais que os homens”, salientou a vice-directora-geral da ONU Mulheres, Anita Bhatia, durante uma conferência de imprensa que serviu para apresentar o relatório sobre a matéria.

Durante o seu discurso, Bhatia insistiu que “ao ritmo actual de progresso, os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) do objectivo 5 [focado na igualdade de género] podem levar décadas, e até séculos, para se materializarem”.

Além disso, sublinhou que “a paridade na força de trabalho não será alcançada nos próximos 140 anos” e que “é provável que demore 40 anos para alcançar a igualdade de representação nos parlamentos de todo o mundo”, caso não ocorram melhorias.

O relatório salienta que as mulheres perderam cerca de 800 mil milhões de dólares em rendimentos em 2020 devido à pandemia de covid-19 e que, apesar de “um aumento em algumas partes do mundo, a sua participação nos mercados de trabalho será menor em 2022 do que antes da pandemia”.

O estudo estima também que até ao final deste ano haverá 383 milhões de mulheres e meninas a viverem abaixo do limiar da pobreza e 368 milhões de homens e meninos nessa situação.

Anita Bhatia alertou ainda para a existência de vários factores “que agravam um panorama já sombrio para a igualdade de género”, como as consequências da pandemia de covid-19 ou a actual crise alimentar, financeira e de combustíveis.

“A guerra em curso na Ucrânia está a piorar a insegurança alimentar, limitando a oferta de trigo, fertilizantes e combustível e impulsionando a inflação. Cerca de 36 países dependem da Rússia e da Ucrânia para assegurar mais de metade das suas importações de trigo, incluindo nações afectadas por conflitos como o Sudão, Síria e Iémen”, pode ler-se no relatório da ONU Mulheres.

Maria-Francesca Spatolisano, adjunta do secretário-geral da ONU para a coordenação de políticas, sublinhou na conferência de imprensa que “a igualdade de género é a base para alcançar todos os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável”.

Já a directora de programa da Organização para o Meio Ambiente e Desenvolvimento das Mulheres (WEDO), Katie Tobin, destacou que o relatório reconhece que mulheres e meninas, especialmente em todo o sul global, são afectadas significativa e desproporcionalmente pela crise climática e pela destruição ambiental”.

Para Tobin, a situação “tem suas raízes na discriminação sistémica e nas desigualdades estruturais” sofridas pelas mulheres.