Incêndios: perda de controlo e queda de helicóptero em Amares era “inevitável”
O piloto, encadeado pelo sol, não terá visto a linha de alta tensão, concluiu a investigação do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários.
A queda do helicóptero que combatia um incêndio no concelho de Amares, distrito de Braga, na quinta-feira, após colidir com linhas eléctricas, era “inevitável”, refere a investigação, acrescentando que todo o vale estava “sob luz directa do sol”. O piloto envolvido no acidente ficou ferido com gravidade e continua hospi
Estes dados constam de uma Nota Informativa (NI) do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) divulgada esta quarta-feira, e a que a agência Lusa teve acesso.
Este organismo conta que, após largar a equipa de oito elementos da Unidade de Emergência de Protecção e Socorro UEPS/GNR, o piloto, de 53 anos, em contacto com outro helicóptero, “voou em busca de um ponto de água próximo para o primeiro abastecimento e descarga no incêndio”, na localidade de Paranhos, Amares.
“Repetido o ciclo de carga e descarga, o helicóptero realizou oito largadas de água sobre a frente do incêndio, a Oeste de uma linha de transporte de energia de 150Kv [quilovolts] que cruzava o local”, diz o GPIAAF. Com a evolução do incêndio para Este, o piloto “realizou duas largadas a Este” da referida linha eléctrica.
Na décima primeira aproximação à frente de fogo, o piloto, “conhecedor da existência e localização das linhas aéreas de transporte de energia no local, efectuou uma aproximação directa desde o ponto de abastecimento, localizado no Rio Homem, a Norte do incêndio, seguido de uma volta pela direita definindo uma trajectória para a terceira e última largada do dia, a Este da linha eléctrica”.
“Às 18h22, durante a referida volta pela direita, o piloto terá sido surpreendido pela posição da linha de alta tensão à sua frente, largando de imediato a água, tentou manobrar pela direita em descida para evitar a colisão. Acabou por colidir com os dois cabos inferiores da linha, inicialmente com o rotor principal e de seguida com o rotor de cauda que se separou da aeronave, ficando entrelaçado num dos cabos da linha de alta tensão”, explica a investigação.
Segundo o GPIAAF, “a perda de controlo da aeronave foi inevitável e consequente queda abrupta praticamente à vertical do impacto”.
“Atendendo à densa vegetação e ao declive negativo favorável à trajectória de dissipação de energia da aeronave, o impacto faseado, embora violento, permitiu as condições de sobrevivência ao piloto”, indica a Nota Informativa. Os investigadores adiantam que foram os elementos da UEPS nas proximidades que “prestaram os primeiros cuidados ao piloto que ficou encarcerado nos destroços da aeronave”.
O GPIAAF dá ainda conta de que “o céu se apresentava com poucas nuvens altas, estando todo o vale [onde lavrava o incêndio] sob luz directa do sol”.
O troço das linhas envolvido no acidente caracteriza-se por um vão de 1016 metros, suportado por dois postes de esteira vertical. “As linhas são constituídas por oito condutores (duas linhas de três fases) de alumínio/aço e dois cabos de guarda superiores, devidamente sinalizado”, lê-se na Nota Informativa, a qual refere ainda que “o ponto de impacto nos dois cabos inferiores ocorreu a cerca de 342 metros do poste Norte, a uma cota de 81 metros do solo”.
O GPIAAF abriu um processo de investigação de segurança às causas do acidente, que irá incidir sobre “o funcionamento da aeronave pré-evento, as condições do ambiente envolvente, os factores humanos envolvidos, os factores organizacionais e procedimentos envolvidos na operação, as medidas de gestão do risco relativamente à colisão de aeronaves de combate a incêndios com linhas aéreas de transporte de energia e o tratamento de anteriores recomendações do GPIAAF”.