Marcelo nega desconforto ao lado de Bolsonaro, apesar da bandeira que lhe puseram à frente

“O que fica para a História é que Portugal esteve presente num momento histórico”, disse o Presidente da República, referindo-se às comemorações do bicentenário da independência do Brasil.

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Marcelo Rebelo de Sousa assiste à cerimónia do bicentenário da independência do Brasil ao lado de Jair Bolsonaro EPA/Joedson Alves

O Presidente da República continua confortável com a sua participação nas comemorações oficiais do bicentenário da independência do Brasil, ao lado do Presidente e candidato Jair Bolsonaro, mesmo depois de ter ficado numa fotografia atrás de uma bandeira daquele país adulterada na qual, em vez das estrelas do brasão central com a faixa “Ordem e Progresso”, está um bebé e duas frases: “Brasil sem aborto” e “Brasil sem drogas”.

A fotografia foi captada durante o desfile cívico-militar das comemorações oficiais na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, antes de Marcelo Rebelo de Sousa ter respondido aos jornalistas que lhe perguntaram se estava confortável por ter estado na tribuna ao lado de Bolsonaro.

Questionado pelo PÚBLICO se esse “conforto” se estende ao momento em que a foto com a bandeira adulterada foi captada, o chefe de Estado português afirma não se ter apercebido da situação. “De onde estava não podia ver o que tinha a bandeira, que não estava na tribuna e que alguém colocou algures no meio do desfile e não estava já no fim”, afirma Marcelo.

“Na altura desconhecia o que se passava para além do gesto do Presidente [do Brasil], que não percebi o que significava, e daí o meu ar entre o estupefacto e o divertido”, acrescentou, referindo-se ao dedo indicador apontado para cima de Jair Bolsonaro.

Em declarações aos jornalistas, num hotel em Brasília, que o questionaram sobre se se tinha sentido confortável na tribuna, Marcelo disse que “de onde estava não ouvia” as palavras de ordem que foram gritadas pela multidão em apoio ao Presidente do Brasil e contra Lula da Silva, seu adversário na campanha em curso para a eleição presidencial de 2 de Outubro.

“Eu estou aqui para representar Portugal num momento histórico, fosse qual fosse o Presidente. […] E o que fica para a História é que Portugal esteve presente num momento histórico”, declarou, acrescentando: “Este é um momento histórico, e não é histórico por haver uma eleição, é histórico porque são 200 anos de vida de um Brasil independente, que é um orgulho para nós.”

Marcelo argumentou ainda que “Portugal tem relações diplomáticas com democracias e com ditaduras”, referindo que recebeu chefes de Estado e visitou países “independentemente de os regimes serem parecidos ou não”. “O que interessa é que há um milhão de portugueses a viver no Brasil e há 250 mil brasileiros a viver em Portugal, e esses continuarão a viver qualquer que seja o Presidente, qualquer que seja o Governo, e a minha função é representar a nação portuguesa”, defendeu.