Vice da Câmara do Marco de Canaveses prepara queixa ao PS contra a presidente da autarquia

Autarca retirou confiança política e os pelouros ao vice-presidente, que avança com uma candidatura para a liderança da concelhia local. Eleições realizam-se a 8 de Outubro.

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Câmara de Marco de Canaveses ADRIANO MIRANDA

As eleições para a nova comissão política do PS do Marco de Canaveses, marcadas para 8 de Outubro, já abriram uma fractura no partido, concretamente entre a presidente da câmara, Cristina Vieira, que lidera também a estrutura concelhia, e Mário Bruno Magalhães, até agora vice-presidente do executivo.

A presidente da câmara invoca “falta de lealdade” do seu vice-presidente, “evidenciada através de um comportamento reiterado no tempo e que se degradou ao longo dos últimos meses”, o que conduziu a que o despromovesse no cargo. Já Mário Bruno Magalhães garante que o anúncio da sua candidatura à concelhia socialista local levou a autarca a afastá-lo das funções que desempenhava no executivo, retirando-lhe confiança política e os pelouros.

“Talvez motivado por uma eventual ascensão ao cargo de presidente da câmara municipal, fruto de rumores de que eu sairia para outro cargo de nomeação política, o engenheiro Mário Bruno de Magalhães agravou uma série de comportamentos inqualificáveis e que colocam em causa até a união e coesão do executivo, não me deixando alternativa senão a retirada da confiança política”, afirma Cristina Vieira, numa resposta enviada ao PÚBLICO.

A autarca demonstra insatisfação com o desempenho do vereador e assume que esse descontentamento pesou no momento de lhe retirar a confiança política. “A falta de lealdade tem também a ver com a inoperância do vereador em várias matérias. Ele repetidamente fazia promessas aos munícipes que não cumpria - nem sabia se podia cumprir – e justificava, sem qualquer motivo para isso, sacudindo as responsabilidades para a presidente. É um comportamento inaceitável”, contextualiza.

Já o vereador Mário Bruno de Magalhães tem outra interpretação. Revela que o seu afastamento do cargo de vice-presidente está relacionado com a sua candidatura à concelhia socialista, que “estava a ser preparada desde o Natal do ano passado e que era do conhecimento da presidente de câmara.”

Ao PÚBLICO, o vereador agora sem pelouros defende-se e diz que “18 dias depois de ter anunciado a sua candidatura, Cristina Vieira tornou pública a sua recandidatura à concelhia num jornal local.”

Num comunicado que emitiu esta segunda-feira, a autarca socialista precisa que “procedeu à avocação de todas as competências delegadas e subdelegadas no presente mandato ao vice-presidente, Mário Bruno Magalhães, através de um despacho com efeitos a partir das 00h00 do dia 6 de Setembro”. Para além dos Assuntos Jurídicos e Fiscalização; Recursos Humanos e Qualidade dos Serviços, Mário Bruno Magalhães era o responsável pelos pelouros dos Assuntos Jurídicos e Fiscalização; Recursos Humanos e Qualidade dos Serviços; Ambiente, Concelho Verde e Serviços Urbanos; Feiras e Mercados; Obras Públicas; e Segurança e Polícia Municipal. O novo vice-presidente é o vereador Nuno Vítor Pinto.

A presidente da câmara assume que a decisão de retirar a confiança política ao vereador “foi uma decisão ponderada e não tem a ver com um episódio pontual.” Além disso, acrescenta, “os planos de acção partidária não se misturam com o exercício de funções no executivo municipal”.

Por outro lado, Cristina Vieira desmente que a candidatura do seu ex-vice-presidente à concelhia tivesse sido acordada consigo. E garante: “Em nenhum momento me pronunciei sobre a eventual candidatura.”

Reagindo às críticas de falta de “lealdade institucional” para com a autarca, o vereador refuta a acusação e diz que se vive um “ambiente hostil” na autarquia. “Nunca fui desleal e por isso não encontro razões para que me tenha sido retirada a confiança política. Para mim, a gratidão e a lealdade são valores que muito prezo”, observa.

Em declarações ao PÚBLICO, Mário Bruno Magalhães refere que Cristina Vieira não lhe podia ter retirado a confiança política uma vez que se trata de uma “competência que cabe aos órgãos do partido, concretamente ao secretariado concelhio e à comissão política concelhia.” Por essa razão, adianta que vai denunciar o caso à direcção nacional do PS e também à federação distrital do Porto, de cujo secretariado faz parte.

Numa carta recente que fez chegar ao presidente da distrital PS-Porto, o ex-vice-presidente conta que a sua candidatura “surge após e por diversas vezes ter conversado com a actual presidente da concelhia do Marco de Canaveses (...), conversas essas que se intensificaram após as eleições autárquicas.”

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