É o Largo da Madalena, em Lisboa, numa tarde qualquer de Verão soalheiro. Ouve-se o barulho do avião que sobrevoa a cidade, as buzinas dos carros que transitam pelas ruas enquanto no ar fica o fumo que sai pelos escapes e se pode observar as várias motas que ocupam os passeios. Mas subitamente tudo desaparece e, pouco a pouco, este local da cidade antiga é ocupado por esplanadas, ouvem-se as notas das guitarras do fado, há jacarandás, miúdos e graúdos a passear pela praça e uma fonte da qual jorra água e que enfeita o jardim. O eléctrico passa ali perto.

É esta a visão que o jardineiro digital Jan Kamensky imaginou para Lisboa, plasmada num vídeo que será publicado nesta quarta-feira, dia 7, para assinalar o Dia Internacional do Ar Limpo para o Céu Azul, proclamado pela ONU em 2020, e que tem como objectivo alertar para os efeitos da poluição do ambiente e chamar a atenção dos Estados-membros para a necessidade de cooperação internacional para combater as alterações climáticas.

Mas será possível dar vida a esta utopia do designer alemão? O Plano de Acção Climática Lisboa 2030 diz que a cidade precisa de implementar mais Zonas de Emissões Reduzidas (ZER) e a associação Lisboa Possível, numa parceria com a Zero, acredita que é exequível recriar esta ideia na capital e transformar as ruas do centro histórico em pequenos jardins verdes, pensados para as pessoas. Inspiradas pelas superilhas em Barcelona, áreas constituídas por nove quarteirões onde a circulação de automóveis é limitada, as duas associações querem “devolver a cidade às pessoas, aprendendo a fazer com quem já o fez”.

Por esta razão, ouviram os conselhos do arquitecto catalão Ton Salvadó, que implementou a primeira superilha em Barcelona depois de ter sido eleito director do Modelo Urbano deste município em 2016, e que forneceu ferramentas durante a sua visita à Biblioteca dos Coruchéus para se elaborar a primeira superilha em Lisboa, onde se pode caminhar, respirar, brincar, pedalar e melhorar a saúde das pessoas que habitam as cidades.

As associações criaram o conceito Superbairro Por Um Dia, uma zona sem tráfego onde as pessoas podem estender a vida para a rua, os comerciantes podem ocupar os passeios e os artistas podem partilhar a sua arte. Levaram esta ideia às juntas de freguesia, e a primeira a aceitar o desafio foi a Junta de Freguesia da Misericórdia, que, no âmbito da Semana Europeia da Mobilidade, que decorre entre 16 e 22 de Setembro, vai implementar, por um dia, o primeiro superbairro à volta da Praça das Flores. Será a 23 de Setembro.