Portugueses preparados para deixar de comprar produtos associados à desflorestação
Estudo europeu abrangeu 9000 pessoas (mil em cada país) e destinou-se a aferir a opinião dos cidadãos sobre a regulamentação de produtos “livres de desflorestação e degradação florestal”. Os consumidores portugueses, concluiu o inquérito realizado em Julho, “não querem” produtos que causem desflorestação.
Oito em cada 10 europeus, em nove países da União Europeia, incluindo Portugal, apoiam uma lei forte para defender produtos livres de desflorestação, revela um inquérito divulgado esta segunda-feira pelas associações Deco e Zero. O estudo abrangeu 9000 pessoas (mil em cada país) e destinou-se a aferir a opinião dos cidadãos sobre a regulamentação de produtos “livres de desflorestação e degradação florestal”.
Em Junho, a associação ambientalista Zero tinha já divulgado os resultados de um trabalho realizado em cinco países europeus sobre o mesmo tema. Essa sonadgem já concluía que os cidadãos de cinco países europeus (Dinamarca, França, Alemanha, Itália e Espanha) preferiam comprar produtos que não provoquem a desflorestação de países terceiros, e também mostrava que os consumidores estavam contra o atraso de legislação europeia anti-desflorestação,
Oito em cada dez portugueses
As conclusões da nova sondagem mais alargada, e que foi divulgada esta segunda-feira por ocasião do Dia da Amazónia, confirmam esta percepção e indicam que a protecção das florestas é um tema prioritário para os europeus e “crítico” para os portugueses. Oito em cada 10 portugueses apoiam “uma lei para produtos livres de desflorestação forte”, lê-se no documento divulgado pela Defesa do Consumidor em parceria com a associação ambientalista.
Os consumidores portugueses, segundo a informação divulgada, “não querem” produtos que causem desflorestação.
As organizações frisam que a sondagem mostra “um apoio inequívoco dos cidadãos” à nova legislação, a poucos dias da discussão, no Parlamento Europeu (13 de Setembro), de uma proposta de regulamento que visa garantir que as cadeias de abastecimento europeias não causam desflorestação.
“A esmagadora maioria dos europeus (82%) acredita que as empresas não devem vender produtos que destroem as florestas do mundo e 78% consideram que a comercialização de produtos que conduzem à desflorestação deve ser proibida”, argumentam as organizações, num documento que acompanha a divulgação do inquérito.
A destruição e degradação das florestas é vista pelos inquiridos como o problema ambiental mais preocupante (77%), seguindo-se a poluição do ar (74%).
“Para os portugueses esta preocupação é ainda mais marcante, com 91% dos inquiridos a afirmar uma preocupação extrema ou moderada”, sublinham as associações.
As grandes empresas foram identificadas como as principais responsáveis na protecção das florestas no mundo (46%), a par de organismos internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU), os governos nacionais e a União Europeia (44%, 42% e 39%, respectivamente).
As grandes empresas foram também identificadas como tendo “o pior desempenho” no cumprimento desta missão por 64% dos inquiridos.
A extracção de madeira, a agricultura industrial e o sector da energia são vistos como aqueles que mais contribuem para desflorestação. A produção de carne e as rações à base de soja estão entre os quatro domínios considerados mais ligados à desflorestação, numa lista liderada pelo mobiliário e o óleo de palma.
Boicote às empresas
“A sondagem mostra que os consumidores estão preparados para deixar de comprar às empresas que contribuem para a desflorestação (37%) ou reduzir as compras (36%), sendo que um pequeno grupo -- 15% daqueles que modificariam o seu padrão de consumo -- estaria mesmo preparado para convencer outras pessoas a boicotar as empresas em causa”, lê-se no documento.
Em Portugal, indica a mesma fonte, os números são ainda mais significativos: 41% deixariam de comprar produtos a estas empresas, 40% reduziriam as compras e 17% estariam dispostos a convencer outros a boicotar.
A Deco e a Zero garantiram que vão acompanhar o processo legislativo a nível europeu, em defesa de produtos “verdadeiramente sustentáveis”, que salvaguardem os direitos humanos dos povos locais e indígenas, a milhares de quilómetros de distância.
“Neste momento, cabe aos deputados europeus exercer o seu dever de representatividade para assegurar que a nova legislação traduz as expectativas e aspirações dos cidadãos e consumidores europeus”, declararam em comunicado conjunto as duas organizações.
O inquérito foi realizado entre 10 de Julho e 28 de Julho.