Federação de padel inviabiliza torneio de elite sem custos para si

Com o apoio da Câmara Municipal do Porto, uma promotora propôs realizar no Pavilhão Rosa Mota uma prova com os melhores jogadores do mundo, mas a federação de padel indeferiu o pedido.

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O torneio do Premier Padel em Paris foi disputado no court principal de Roland Garros Antoine Couvercelle/FFT

Foram quatro meses de avanços e recuos, que terminaram a 20 de Julho com um email enviado pela Federação Portuguesa de Padel (FPP) a uma empresa portuguesa de organização de eventos onde foi comunicado que “o pedido de parecer de prova é indeferido”. Em causa, estava a realização no Pavilhão Rosa Mota de uma prova dos circuitos Cupra FIP Tour ou Premier Padel, o que abria a possibilidade de o Porto receber os melhores jogadores do mundo da modalidade. O torneio contaria com a Câmara Municipal do Porto (CMP) como patrocinador principal e não teria custos para a FPP, que, mesmo assim, inviabilizou a prova alegando “congestionamento” do seu calendário até Junho de 2023.

Os primeiros contactos realizaram-se a 10 de Março. Num email enviado para Ricardo Oliveira, presidente da FPP, o responsável pela empresa de organização de eventos, que preferiu não ser identificado, comunicava a disponibilidade de organizar no Porto “um torneio da tour mundial” da Federação Internacional de Padel (FIP). Apontando para “a última semana de Julho”, foi solicitada “a anuência e colaboração” da FPP “para a organização deste torneio” que podia ser “importante para a modalidade e também para o seu desenvolvimento no Norte” de Portugal.

No dia seguinte, alertando que deveriam “ser prestadas uma série de informações” sobre a empresa e “garantias que estão descritas no regulamento”, Bernardo Gonçalves, secretário desportivo da FPP, sugeriu “marcar um zoom” [reunião virtual], onde informou a empresa que “a federação estava interessada” e daria “uma resposta em dez dias depois do pedido formal”. Pedido que, revela o responsável pela promotora ao PÚBLICO, chegou à FPP a 21 de Abril, já com “tudo preenchido”.

A partir desse momento, a comunicação da empresa com a FPP tornou-se mais difícil e, após Bernardo Gonçalves solicitar a 21 de Junho “um intervalo de datas possíveis”, a resposta do promotor foi elucidativa: “As datas estariam em aberto desde Agosto de 2022 até Junho de 2023.” “Demos abertura total e, a partir daí, só tivemos a resposta, a 20 de Julho, a dizerem-nos que o pedido de parecer de prova é indeferido”, revela o responsável pela promotora.

Perante estes desenvolvimentos, o empresário conclui que “a posição da federação é de bloquear tudo o que seja da FIP”, uma vez que a “possibilidade de trazer” ao Porto “o Premier estava e continua a estar em cima da mesa”. Isto, “com um custo zero para a federação”: “A CM do Porto seria o main sponsor e o resto dos financiadores seriam privados”.

Com o apoio da Qatar Sport Investment, o circuito Premier Padel começou a ser disputado este ano, e, contando com os melhores jogadores mundiais, bateu recordes de espectadores em provas da modalidade no torneio realizado na Argentina, tendo, em Paris, sido disputado no court principal de Roland Garros.

Explicando qual seria a logística de trazer a Portugal um torneio com a elite do padel, o promotor compara um evento do WPT e do Premier, afirmando que “a organização no WPT é muito menos exigente”, uma vez que o “prize money de homens e mulheres é de 160 mil euros”, enquanto no “Premier é de 250 mil euros”. “Por 300 mil euros é possível fazer uma coisa como deve ser no WPT, enquanto no Premier rondará os 350/400 mil euros.”

Para atingir estes valores, diz o organizador, um dos maiores encargos vai para o aluguer do espaço - “o pavilhão Rosa Mota custaria 40 a 50 mil euros” -, mas “o WPT é jogado num espaço público, cedido gratuitamente pela Câmara de Cascais”.

Apesar de não ter encontrado no seu calendário datas para que fosse disputado até Junho de 2023 um torneio de elite, ontem teve início o Cascais Open, a 13.ª etapa do WPT 2022, onde a FPP se apresenta como organizadora.

Questionada pelo PÚBLICO sobre qual o orçamento previsto para a organização do evento e os motivos que levaram a indeferir a prova no Porto, a FPP não respondeu. No entanto, analisando o contrato-programa assinado em 2021 pela federação e o IPDJ para a organização do WPT Cascais Padel 2021, comprova-se que foi apresentado um orçamento de 451 mil euros, tendo, por esse facto, a FPP recebido um financiamento público do IPDJ de 39 mil euros.

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