EUA anuncia venda de armas a Taiwan e China reage com ameaças

Administração Biden diz que o equipamento se destina a actualizar o já existente e não é uma mudança política. Pequim diz que “tomará as contramedidas necessárias”.

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Fragata taiwanesa equipada com um míssil de fabrico norte-americano ANN WANG/Reuters

O Departamento de Estado norte-americano aprovou uma venda de equipamento militar a Taiwan que poderá chegar a 1,1 mil milhões de dólares, incluindo 60 mísseis antinavio e 100 mísseis ar-ar, o que levou a China a anunciar que irá retaliar.

O Pentágono anunciou o pacote na sexta-feira, em reacção aos exercícios militares agressivos da China em torno de Taiwan, depois da visita no mês passado da presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, a mais importante figura da hierarquia dos EUA a visitar Taipé em 25 anos.

A venda inclui mísseis Sidewinder, que podem ser usados para missões de ataque aéreo ou ao solo, num custo de 85,6 milhões de dólares, mísseis antinavio Harpoon num custo calculado de 335 milhões e apoio ao programa de vigilância por radar de Taiwan, cujo custo ronda os 665,4 milhões de dólares, disse a Agência de Cooperação em Segurança e Defesa (DSCA) do Pentágono.

Liu Pengyu, porta-voz da embaixada chinesa em Washington, afirmou em comunicado que a venda de armas “prejudica gravemente as relações China-EUA e a paz e estabilidade no Estreito de Taiwan”.

“A China tomará as contramedidas necessárias de forma resoluta à luz do desenvolvimento da situação”, acrescentou.

A Administração Biden afirma que o pacote, desenvolvido em consultas com Taiwan e com legisladores norte-americanos, está em consideração há algum tempo.

“Como a República Popular da China está a aumentar a pressão sobre Taiwan – incluindo uma maior presença militar aérea e marítima em torno de Taiwan – e se envolve em tentativas de mudança do statu quo no Estreito de Taiwan, estamos a fornecer a Taiwan aquilo de que precisa para manter as suas capacidades de legítima defesa”, disse, em comunicado, a directora da Casa Branca para a China e Taiwan, Laura Rosenberger.

A Reuters tinha divulgado no mês passado que a Administração Biden estava a planear enviar novo equipamento para Taiwan, mas que esse equipamento se destinava a manter os actuais sistemas militares de Taiwan e responder a encomendas já feitas e não a oferecer novas capacidades, apesar do aumento da tensão que se seguiu à visita de Nancy Pelosi.

O Pentágono afirma que o equipamento e apoio anunciados na sexta-feira não irão alterar o actual equilíbrio militar na região. Membros do Governo dizem que não reflecte qualquer mudança na política em relação a Taiwan.

“Estas propostas de venda são casos de rotina para apoiar os esforços permanentes de Taiwan para modernizar as suas Forças Armadas e manter uma capacidade defensiva credível”, disse um porta-voz do Departamento de Estado, pedindo para não ser identificado.

O Ministério da Defesa de Taiwan expressou os seus agradecimentos, acrescentando que as recentes actividades “provocadoras” da China representam uma ameaça grave e que a venda de armas ajudará Taiwan a fazer face à pressão militar chinesa.

“Ao mesmo tempo, também demonstra que ajudará o nosso país a fortalecer as nossas capacidades de defesa em geral e ao mesmo tempo manter a segurança e a paz no Estreito de Taiwan e na região do Indo-pacífico”, diz o comunicado.

Rupert Hammond-Chambers, presidente do Conselho Empresarial EUA-Taiwan, afirmou que a sua organização opõe-se à ideia da “abordagem limitada” na venda de armas a Taiwan.

“Como o Exército de Libertação do Povo [ELP] demonstrou recentemente no seu bloqueio simulado à ilha, a ilha enfrenta uma série de ameaças que requerem uma série de capacidades. Negar à ilha a possibilidade de defesa total irá, ao longo do tempo, criar novas brechas nas defesas de Taiwan que o ELP poderá explorar”, referiu Hammond-Chambers numa declaração.

A encomenda reflecte o apoio permanente dos EUA a Taiwan em face à pressão da China, que reivindica Taiwan como parte do seu território e nunca pôs de lado a hipótese de usar a força para assumir o controlo da ilha que tem um governo democrático.

As vendas têm de ser revistas pelo Congresso, mas os assessores do Partido Democrata e do Partido Republicano não esperam que haja oposição. Desde a visita de Pelosi que já houve pelo menos mais duas visitas de membros do Congresso de ambos os partidos a Taiwan, assim como governadores norte-americanos, todas elas condenadas por Pequim.

Reuters

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