Os cães podem ter demência — mas muitos passeios podem ajudar na prevenção

Estudo sugere que o exercício pode ajudar a prevenir a demência nos cães. Sabe que comportamentos deves ter em conta no teu animal de estimação e quando consultar um veterinário.

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Os cães podem ter demência Nelson Garrido

Os cães também podem ter demência. Mas é, muitas vezes, difícil de detectar. Um estudo publicado a 25 de Agosto mostra como é comum, especialmente em cães com mais de dez anos.

Aqui estão algumas mudanças de comportamento a ter em conta em cães sénior para saber quando se deve consultar um veterinário.

O que é a demência nos cães?

A demência canina, ou disfunção cognitiva canina, é semelhante à doença de Alzheimer no ser humano, uma doença cerebral progressiva que acarreta alterações comportamentais, cognitivas e outras. É geralmente observada em cães com mais de oito anos, mas pode acontecer em cães com mais de seis anos.

Muitas vezes, os tutores de animais de estimação podem não dar importância a muitas mudanças de comportamento, encarando-as como consequências naturais do envelhecimento. Por isso, é provável que haja mais cães nesta condição do que se imagina.

Os veterinários também podem ter dificuldades em fazer o diagnóstico. Não há nenhum teste preciso e não invasivo. E, tal como os humanos, é provável que os cães idosos tenham uma série de outros problemas de saúde que podem complicar o diagnóstico.

O meu cão tem demência?

Os cães com demência podem muitas vezes perder-se no seu próprio quintal ou casa. Podem ficar presos atrás de móveis ou em cantos da sala, porque se esquecem que conseguem andar para trás. Ou tentar passar por uma porta pelo lado das dobradiças.

As interacções dos cães com as pessoas e outros animais de estimação podem mudar. Podem procurar menos ou mais afecto por parte dos donos do que antes, ou começar a ficar rabugentos com o outro cão lá de casa, quando antes até eram felizes companheiros. Podem até esquecer caras que conheceram durante toda a vida.

Tendem, também, a dormir mais durante o dia e a levantar-se mais à noite. Podem andar ou ladrar, aparentemente sem propósito. Muitas vezes, o consolo não os acalma, e mesmo que interrompam o comportamento, normalmente recomeça muito rapidamente.

Por vezes, cuidar de um cão idoso com demência é como ter um cão bebé de novo, uma vez que podem começar a fazer as necessidades em casa, mesmo que sejam treinados. Também se torna difícil para eles lembrarem-se de alguns desses comportamentos básicos, e ainda mais difícil aprender novos.

O nível de actividade também pode mudar, desde andarem o dia todo sem parar, até a mal saírem da cama.

Por último, também se pode notar um aumento do nível de ansiedade. O cão pode já não aguentar ficar sozinho, seguir o dono de quarto em quarto ou assustar-se facilmente com coisas que nunca o incomodaram antes.

Acho que o meu cão tem demência, e agora?

Existem alguns medicamentos que podem ajudar a reduzir os sinais de demência para melhorar a qualidade de vida e fazer com que seja mais fácil cuidar deles. Portanto, se achas que o teu cão tem esta doença, consulta o veterinário.

O nosso grupo está a planear investigar alguns tratamentos não farmacológicos. Isto inclui analisar se o exercício e o treino podem ajudar estes cães. Mas ainda é cedo.

Infelizmente, não há cura. A melhor aposta é reduzir o risco de contrair a doença. Este último estudo sugere que o exercício pode ser fundamental.

O que se concluiu no último estudo?

A investigação americana publicada a 25 de Agosto reuniu dados de mais de 15 mil cães no âmbito do Dog Aging Project.

Os investigadores pediram aos donos de cães que completassem dois inquéritos. O primeiro perguntou sobre os cães, o seu estado de saúde e actividade física. O segundo avaliou a função cognitiva dos cães. Pensava-se que cerca de 1,4% dos cães teriam disfunção cognitivas canina.

Para os cães com mais de dez anos, cada ano de vida extra aumenta o risco de desenvolvimento de demência em mais de 50%. Os cães menos activos tinham quase 6,5 vezes mais probabilidades de ter demência do que os cães muito activos.

Embora isto possa sugerir que o exercício regular possa proteger os cães contra a demência, não existem certezas a partir deste tipo de estudo. Pode ser menos provável que cães com demência, ou com sinais precoces de demência, façam exercício.

No entanto, sabemos que o exercício pode reduzir o risco de demência nas pessoas. Portanto, passear os cães pode ajudá-los — e a nós — a reduzir o risco de demência.

“Amo tanto a minha menina”

Cuidar de um cão que tem demência pode ser difícil, mas gratificante. Na verdade, o nosso grupo está a estudar o impacto nos cuidadores.

Acreditamos que o fardo e o stress podem ser semelhantes ao que tem sido relatado quando as pessoas cuidam de alguém com Alzheimer.

Também se sabe que as pessoas adoram os seus cães velhos. “Amo tanto a minha menina que estou disposto a fazer qualquer coisa por ela. Nada é demasiado incómodo”, disse-nos um participante no estudo.


Exclusivo P3/The Conversation
Susan Hazel e Tracey Taylor são investigadoras na Escola de Ciência Animal e Veterinária na Universidae de Adelaide

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