Transmissão sexual de varíola-dos-macacos é uma hipótese, mas confirmação depende de mais estudos

Esta quinta-feira, a Direcção-Geral da Saúde registou o menor número de novos casos de varíola-dos-macacos desde o final de Junho: foram confirmadas 25 novas infecções.

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A tendência de queda dos números de novos infectados em Portugal confirmou-se esta quinta-feira, com apenas 25 casos confirmados CHRISTINNE MUSCHI/REUTERS

A detecção de fragmentos do vírus da varíola-dos-macacos no sémen de quatro pacientes em Itália e dois na Alemanha alertavam, a meio de Junho, para a possibilidade de haver uma nova via de transmissão da doença: através de sexo. Quase três meses depois, mantemos as dúvidas: “Pode haver um contributo para a infecção a partir do contacto com sémen, mas não sabemos disso até ao momento.” A declaração de Rosamund Lewis, epidemiologista e responsável técnica da Organização Mundial da Saúde (OMS) para este vírus, mostra as dificuldades em responder a todas as questões que este surto tem colocado.

Um exemplo perfeito está na recomendação de uso de preservativo, indicada pela OMS e por algumas agências nacionais de saúde (como as dos Estados Unidos, Reino Unido ou França). “É uma medida preventiva. Em parte, porque não sabemos se é transmitido pelo sémen, mas também porque diminui o contacto de pele com pele. Isto aplica-se a homens gay e bissexuais, mas também a qualquer pessoa com múltiplos parceiros sexuais”, reforçou Rosamund Lewis, numa conferência de imprensa da OMS, esta quarta-feira.

No início de Agosto, surgiram mais novidades: um estudo do instituto italiano Lazzaro Spallanzani conseguiu cultivar o vírus vivo a partir de uma amostra de sémen. Esta experiência, de acordo com o artigo publicado na revista científica The Lancet Infectious Diseases, reforça a ideia de que a transmissão sexual “pode ser uma via viável e reconhecida, especialmente no actual surto.”

A ausência de outros estudos que apontem neste sentido impede conclusões. Até ao momento, a principal forma de transmissão de varíola-dos-macacos (monkeypox, ou VMPX) identificada pelos investigadores continua a ser o contacto próximo com pessoas infectadas e com as lesões provocadas pela doença. No final de Julho, um estudo com 528 pacientes de 16 países (o maior publicado até à data) apontava que, em 95% dos casos, a principal suspeita de transmissão era o contacto próximo, acrescentando não ser possível confirmar uma potencial transmissão sexual.

A hipótese de transmissão sexual é avançada desde Junho, devido aos locais de exposição inicial ao vírus (como festas ou saunas para encontros sexuais). A partir das primeiras detecções do vírus no sémen de pacientes alemães e italianos, a hipótese de transmissão através de sémen ou secreções vaginais ganhou maior relevo – mas não existe ainda muita investigação publicada que responda a esta questão.

Portugal com apenas 25 casos

Desde os primeiros casos confirmados no Reino Unido, a 7 de Maio, o surto de VMPX já se estendeu para 99 países, com mais de 51 mil pessoas infectadas. Já esta quinta-feira, a Direcção-Geral da Saúde actualizou os números em Portugal: são agora 871 casos, mais 25 do que na semana passada.

É o número mais baixo de casos confirmados em território português desde o final de Junho, mantendo a tendência de queda de novas infecções das últimas três semanas. Este declínio no número de novas infecções é transversal a todos os países europeus, apesar de contrastar com o aumento no continente americano (com Estados Unidos e Brasil entre os países mais afectados). Entre os mais de 800 pacientes, apenas oito são mulheres.

A região de Lisboa e Vale do Tejo continua a ser a mais afectada pelo surto de VMPX no país, com 78,5% dos casos a serem identificados nesta zona.

Em Portugal, até 28 de Agosto, já tinham sido vacinados 338 contactos de risco. Recorde-se que as doses da vacina contra o VMPX estão destinadas apenas a contactos de pessoas infectadas ou com suspeita de infecção – não havendo ainda orientações para a vacinação preventiva de pessoas em maior risco (como indivíduos com múltiplos parceiros sexuais).

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