O chef Dabiz Muñoz diz que “pagar 365 euros” por um menu “não é coisa de ricos”. A Internet contra-ataca

É aclamado como um dos melhores cozinheiros do mundo e conhecido pela irreverência: é como um punk com três estrelas Michelin. Mas uma frase num entrevista levou a um ataque cerrado a esta estrela espanhola. Sucedem-se as reacções, as piadas e as críticas: “falta de respeito”, “vive num mundo paralelo”.

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Dabiz Muñoz Adriaan Van Looy

“O teu restaurante é o mais caro de Espanha (um menu de degustação custa 365 euros por pessoa): a alta cozinha é uma experiência reservada aos ricos?”, pergunta de forma realista a jornalista Valentina Dirindin a David Muñoz - também conhecido como Dabiz. O chef responde que não, “de modo algum”. “Pagar 365 euros não é coisa de ricos”, diz o cozinheiro, melhor do mundo no Best Chef e 4.º nos 50 Melhores Restaurantes do mundo, nesta entrevista à Vanity Fair italiana. O seu Diverxo, em Madrid, é comprovadamente o três estrelas Michelin mais caro do país.

A frase de Muñoz, a que já por aqui se chamou um punk com três estrelas Michelin, tem tudo para pôr as redes em polvorosa, e dará decerto azo a muito falatório nos próximos dias, mas sublinhe-se que não é uma resposta sem explicação: “Um Ferrari, sim, é para os ricos, um hotel de cinco estrelas, um iate. Se guardar dinheiro durante alguns meses poderá ir a qualquer restaurante do mundo. Aliás, digo-lhe mais: o fine dining é a experiência de luxo mais acessível que se pode ter hoje em dia. Sabe quanto custa um bilhete para um concerto do Harry Styles? 300 a 600 euros. Acha que todos os que vão vê-lo são ricos? São pessoas normais que poupam dinheiro porque querem ter essa experiência. Se for ver o Real Madrid - Juventus, um bilhete começa em 250 euros, e certamente o futebol não é para os ricos. São formas diferentes de olhar para a experiência”, complementa o chef.

Na referência a Harry Styles, assinale-se que em Portugal, em Julho, os bilhetes custavam de 41 a 176 euros, no próximo ano em Madrid custarão de 85 a 160 euros (já em Nova Iorque, sim, vamos de 232 a... 12,213 dólares).

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Dabiz Muñoz, o melhor do mundo nos The Best Chef Awards JAVIER PEÑAS

Saltando essa comparação, a explicação, porém, não acalma os ânimos muito exaltados de quem quer criticá-lo e sentiu até que era “uma falta de respeito”.

“Milhares de famílias neste país não chegam a ter essa quantia para comer durante todo um mês, esta gente vive num mundo paralelo.” Esta é uma das reacções mais ligeiras ao comentário de Muñoz, assinada no Twitter por @Vigo_75bulldog e que o jornal Público espanhol destacou: soma milhares de interacções.

O jornal seleccionou algumas outras intervenções mais acutilantes. “No país dos mileuristas, aqui está Dabiz Muñoz a dizer que pagar 365 euros para comer “não é para os ricos”. É melhor ficar calado do que negar o óbvio. É uma experiência maravilhosa experimentar estes restaurantes, mas é algo que está apenas ao alcance de uma minoria. Já chega desta idiotice”, comenta Alberto @Daria 35 no Twitter.

365 euros? “É metade do que ganho por mês. Assim sendo nem estou no limiar da pobreza, estou no fundo”, diz olga @olgayrob. “Esta gente definitivamente vive numa bolha”, reflecte Pablo.

Pelo Twitter adjectivos menos simpáticos dirigidos ao chef e as piadas sucedem-se nas redes - é o “bombo” do momento... “As redes explodem contra Dabiz Muñoz”, lê-se no Contra Información.

Mas há também quem tenha maior compreensão pela opinião do irreverente cozinheiro: “O que Dabiz Muñoz está a dizer é que pagar esse montante não é coisa de ricos, não que qualquer um o pode pagar. E de facto não é coisa de ricos, porque não é preciso ter milhões no banco para fazer algo extra de vez em quando”, comenta @byzcoche.

De referir que o preço de 365 euros é um decisão recente: Muñoz, face às dificuldades pós-pandemia, decidiu aumentar e muito o menu (já custava cerca de 250 euros). Ainda assim, refira-se, em Espanha (como ocorre também em Portugal), os valores mais elevados podem aproximar-se dos 200, rondar os 250 euros.

O jornal El Mundo recorda a explicação para o valor actual que o torna o mais caro de Espanha. O aumento destinava-se a resolver dificuldades económicas do restaurante e o chef dizia que também queria “melhorar as condições de trabalho” dos funcionários: “Queremos que o DiverXO seja sustentável a nível económico e humano. Se com este preço não tivéssemos clientes, isso significava que o DiverXO não deveria existir. Fizemo-lo e não houve qualquer alteração.”

No Instagram do chef, que é seguido por mais de um milhão de pessoas, também já surgem comentários desde que a entrevista se tornou viral. “Agora vai aumentar para 500 euros com o que já aprendeu”, lê-se.

Mas é um bar de Madrid que leva, até agora, a taça de melhor e mais viral reacção à polémica, com milhares de interacções: “Por 365 euros, no Muralla de Ávila, damos-te de comer, de beber, café, um copo e um puro, e ainda te levamos em ombros a veres a final da Champions em Istambul”.

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