Bastonário dos médicos reage à saída de Temido: “A demissão em si não resolve nenhum problema”

“Quando as pessoas se demitem é porque acham que não conseguem ir mais longe”, diz Miguel Guimarães. O bastonário defende que o SNS não está bem e que muito ficou por fazer para dar uma melhor resposta à saúde aos portugueses.

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“O responsável pelo Governo é sempre o primeiro-ministro e é o primeiro-ministro quem os escolhe", realça o bastonário da OM Nuno Ferreira Santos

O bastonário da Ordem dos Médicos (OM) já reagiu à demissão de Marta Temido. “A demissão em si não resolve nenhum problema. Quando as pessoas se demitem é porque acham que não conseguem ir mais longe e porque não têm nenhuma alternativa para o que está a acontecer”, diz Miguel Guimarães.

Para o bastonário, a saída da ministra prende-se “com o facto de o SNS (Serviço Nacional de Saúde) não estar bem - estar com muitas dificuldades - e com o facto de o governo e o Ministério da Saúde não as conseguirem resolver”. Acrescenta que era necessário que o governo apresentasse “medidas estruturais que permitissem encarar a nossa saúde de forma diferente”.

Miguel Guimarães considera que a demissão de Marta Temido não está directamente relacionada com o caso da grávida de 31 semanas que morreu no passado sábado, após sofrer uma paragem cardiorrespiratória durante uma transferência do Hospital de Santa Maria para o Hospital São Francisco Xavier devido a falta de vagas no serviço de neonatologia, revelado na segunda-feira, horas antes do anúncio da saída.

Questionado acerca do desempenho da ministra da saúde durante a pandemia, o bastonário refere que a avaliação do “depende daquilo de que estamos a falar": “Uma das questões mais importantes que temos em cima da mesa era avaliar a pandemia – aquilo que fizemos bem e mal e ver os pontos positivos e negativos - e isso não foi feito até ao momento. Nunca foi avaliada”.

Miguel Guimarães referiu que desde o início da pandemia, pelo menos 450 mil portugueses não fizeram exames oncológicos básicos, como é o caso do cancro da mama. Ficaram também “milhões de consultas por fazer. Era difícil que os doentes não-covid, na época, não passassem pelo que está a acontecer agora”, acrescenta.

“Os doentes não diagnosticados [na altura] estão a ser diagnosticados de novo, quem trabalhou durante a pandemia, 24h sobre 24h, esperava que a situação melhorasse… E isso não aconteceu. Era óbvio que a situação ia piorar”, diz.

Para o bastonário, agora é “esperar para ver quem vai ocupar a pasta da saúde”. A questão mais preocupante é “a segurança que vamos ter a partir de agora”, refere, já que o verdadeiro problema se encontra nas políticas e forma de funcionamento do Partido Socialista, defende. “A OM tem vindo a chamar à atenção para esta situação [as falhas no SNS] há vários anos. E acho que não é a mudança de ministro que vai mudar a política do PS. Mas esperemos que sim”.

O bastonário, que afirma só avaliar políticas - e não ministros - defende que “em termos do que é a saúde e o SNS em Portugal, ficou muito – para não dizer tudo - por fazer para darmos uma melhor resposta [à saúde] aos portugueses”.

Quanto a culpados pela saída de Marta Temido, a resposta de Miguel Guimarães é clara: “O responsável pelo governo é sempre o primeiro-ministro, e é o primeiro-ministro quem os escolhe, sendo o responsável directo pelos ministros que tem e pelas políticas do governo”.

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