O animal de assistência emocional dele é um jacaré. E dormem na mesma cama

Vêem televisão juntos no sofá, dão abraços e até vão ao mercado em Jonestown, Pensilvânia. Wallygator é um animal de apoio emocional certificado. “Durante um Verão quente, é bom e fresco dormir com ele”, diz o dono.

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Joie e Wallygator Joie Henney

Wallygator, o animal de assistência emocional de Joseph Henney, vai com ele a quase todo o lado, desde a mercearia até aos passeios no parque. Abraçam-se e dormem na mesma cama. WallyGator é um jacaré.

“Quando ele vira o nariz na tua direcção, significa que está à espera de um beijo”, disse Henney, de 69 anos, que vive em Jonestown, Pensilvânia, a cerca de duas horas de Filadélfia. “Ele é um doce.”

Vêem televisão juntos no sofá, e quando Henney o leva ao mercado local, WallyGator dá abraços aos vendedores — desde que eles não se importem de estar tão perto de um réptil de 70 quilos com a boca cheia de dentes afiados.

Wally não é definitivamente um jacaré comum”, disse Henney, a quem chamam Joie (pronuncia-se “Joe"), explicando que a maioria das pessoas à sua volta está familiarizada com o seu jacaré de apoio emocional de sete anos e metro e meio de comprimento.

WallyGator tem seguidores no TikTok e Instagram, e fez manchetes na sexta-feira depois de Henney o ter levado ao Love Park, em Filadélfia. “Ele é um jacaré muito especial, mas eu não recomendo que toda a gente arranje um”, disse o dono. “Se não souberem o que estão a fazer, serão mordidos.”

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Joie Henney e WallyGator no veterinário em 2019 Joie Henney

Esta relação invulgar começou em 2015, quando um amigo lhe telefonou da Florida a perguntar se Henney podia acolher alguns jacarés que tinham sido encontrados numa lagoa em Orlando.

Henney é carpinteiro, mas sempre gostou de cuidar de répteis como passatempo.

É legar ter jacarés na Pensilvânia. Nos últimos 30 anos, Henney ajudou a transferir jacarés, cobras e iguanas abandonadas para santuários de vida selvagem, mantendo os répteis que resgata na sua casa, em estruturas que comprou para esse fim. Depois, encontra santuários ou jardins zoológicos para os albergar.

Geralmente, é chamado para resgatar jacarés das casas de pessoas que os têm em bebés, como animais de estimação, esquecendo-se que é inevitável que se transformem em animais muito grande que podem ser difíceis de gerir. Afinal, são animais que não mudaram desde o tempo dos dinossauros.

Henney disse ao amigo da Florida que podia acolher três jacarés jovens. Passado algum tempo, enviou dois dos animais para refúgios de répteis em Nova Iorque e Nova Jersey. Mas decidiu ficar com WallyGator, que na altura tinha 14 meses.

“Criei laços com ele e estava empenhado em cuidar dele”, disse Henney.“Um dos problemas quando alguém tem um jacaré como animal de estimação é que não se apercebem que esta não é uma situação temporária”, anota, observando que os répteis podem viver 80 anos ou mais em cativeiro. Geralmente vivem em água doce, mas a sua pele não tem de ficar molhada para sobreviverem. Não é comum que as pessoas queiram jacarés como animais de estimação, embora isso aconteça mais do que a maioria das pessoas imagina, afirma Henney.

“Quando chegam ao metro de comprimento, ninguém os quer”, diz Henney. “Podem morder e são extremamente difíceis de lidar.”

Os peritos em vida selvagem concordam: os jacarés geralmente não dão bons animais de estimação e é ilegal tê-los em muitos estados norte-americanos e países. Os animais também podem ser mortíferos. No mês passado, uma mulher de 80 anos da Florida foi morta quando caiu num lago de um campo de golfe e foi atacada por dois jacarés.

“A pressão da mandíbula da mordedura de um jacaré é incrivelmente forte, e as poderosas caudas podem chicotear-te”, explica Raul Diaz, um herpetólogo e biólogo de desenvolvimento evolutivo que dá aulas na Universidade do Estado da Califórnia, em Los Angeles.

São também predadores que estão programados para acreditarem que outras criaturas os querem comer, por isso são defensivos desde cedo, disse o especialista.

“Eu assumo que [Henney] é uma excepção quando se trata de cuidar de um jacaré, ele fez um bom trabalho”, confirma Diaz. “Mas a maioria das pessoas não tem esse tipo de tempo para se dedicar a tratar de um jacaré de estimação.”

Para se desenvolverem bem sob cuidados humanos, os grandes répteis precisam de uma dieta especial e de um ambiente rico, com troncos ou plantas vivas para se esconderem e correrem e pulverizações de água. Nunca devem ser tratados por pessoas sem formação, avisa Matt Evans, curador assistente de herpetologia no Instituto Nacional de Zoo e Biologia da Conservação do Smithsonian, em Washington.

“Se estiveres interessado em trabalhar com jacarés, voluntaria-te num jardim zoológico, num centro natural local ou envolve-te em projectos de ciência cidadã”, aconselha Evans.

Henney sempre lidou com os jacarés com cautela, mas notou que Wallygator era diferente logo no primeiro dia. Disse que ficou surpreendido quando WallyGator, então com meio metro de comprimento, não o tentou morder quando o segurou ou lhe deu de comer pernas de galinha e ratos mortos.

“Ele não comia ratos vivos, e mostrou realmente adorar pipocas de queijo”, disse Henney. “Pensei que era diferente, mas continuava a ter muito cuidado à beira dele.”

No entanto, sentia-se suficientemente confortável perto de WallyGator para não o manter fechado. “Há anos que lido com jacarés e aprendi a lê-los”, disse. “Um jacaré não ataca sem motivo. Sou sempre cuidadoso, mas senti que podia deixá-lo vaguear livremente pela casa.”

Não demorou muito para que WallyGator o começasse a seguir pela casa como um cão curioso. Henney diz que o seu companheiro de quarto mostrou afecto ao permanecer perto dele e por ser dócil. “Ele gostava de ser abraçado e eu pensei: ‘Uau, este é um jacaré super simpático e amigável’.”

Em 2017, vários familiares de Henney morreram, deixando-o triste e em sofrimento. Foi então que ele e o seu invulgar animal de estimação se uniram realmente. “Eu estava deprimido e WallyGator começou a fazer coisas parvas para me animar”, disse Henney. “Quando eu estava no sofá, puxava o meu cobertor para o chão.” Em breve, WallyGator juntava-se a ele no sofá.

Roubar mantas tornou-se o seu passatempo favorito, juntamente a aninharem-se para verem Gator Boys na televisão. WallyGator também gosta de relaxar no seu tanque portátil de mil litros na sala de estar, disse Henney, e os dois vão muitas vezes dar um mergulho juntos na piscina de um amigo.

Henney disse que WallyGator também o ajudou emocionalmente a enfrentar um diagnóstico recente de cancro da próstata e semanas de tratamentos de radioterapia. E, claro, levou o seu amigo de sangue frio com ele.

Há vários anos, disse a um médico o quanto as artimanhas de WallyGator o tinham ajudado a combater a depressão. Ficou chocado quando um dia o médico lhe deu uma ideia: e se ele o registasse como um animal de apoio emocional? “Eu disse: ‘Está louco? Um jacaré é o animal mais temido do mundo'”, recordou Henney.

Mas nesse dia foi para casa com uma carta do médico que indicava que WallyGator se qualificava como um animal de assistência emocional.

Henney preencheu uma candidatura no site U.S. Service Animals e, uma vez aprovada, recebeu um certificado, juntamente com um arnês e uma trela para o seu jacaré. O WallyGator tem de ser certificado todos os anos.

As pessoas ficaram surpreendidas quando souberam que o jacaré de Henney se tinha juntado ao pavão e ao burro na lista de animais de apoio emocional. É conhecido por o vestir com um smoking e óculos de sol e por vezes até com um chapéu.

Henney está na corrida para mais uma distinção: o America's Favorite Pet, um concurso anual tradicionalmente para cães e gatos que elege o animal preferido dos americanos. Este ano, o concurso inclui animais de todos os tipos. O vencedor recebe dez mil dólares e a ronda final de votação termina no dia 27 de Outubro.

Henney leva agora o seu jacaré a festas de natação, jogos de futebol e a escolas e campos de férias para apresentações didácticas sobre répteis. WallyGator não tem um açaime à volta da boca, mas nunca mordeu ninguém. “Para onde quer que o leve, peço sempre autorização primeiro”, diz Henney. “Isso é muito importante com um jacaré”.

Nunca iria querer levá-lo num voo. “Andou uma vez de autocarro”, disse Henney. “Foi o suficiente.” “Algumas pessoas têm medo de jacarés”, acrescentou. “Eu não quero assustar ninguém.”

Isso não foi um problema com Michael Helfrich, o presidente da câmara de York, na Pensilvânia. WallyGator encontrou-se com ele na câmara municipal, no início deste ano.

E os idosos que vivem numa comunidade de aposentados em York ficam encantados quando vêem o jacaré a caminhar pelo corredor com o seu brilhante colete vermelho de animal de assistência emocional. WallyGator já visitou o lar várias vezes e a maioria dos residentes está ansiosa por lhe fazer festas e lançar perguntas, disse Henney. Alguns corajosos pedem para o segurarem.

WallyGator é frio ao toque, mas tem a personalidade mais relaxada que já vi”, disse Hannah Tedesco, que trabalha centro. Ela convidou Henney e o seu jacaré para voltarem no dia 15 de Novembro para o Dia de Steve Irwin. “A primeira vez que o vi estaquei”, disse Tedesco. “Não é todos os dias que se vê um jacaré com trela.”

WallyGator continua a crescer e a acumular centenas de quilos. Henney diz que o réptil come algumas pernas de frango e ratos de três em três dias, juntamente com um saco de pipocas com queijo. Henney tem quase a certeza que morrerá antes do seu animal de companhia, por isso tem um acordo com um amigo para garantir que WallyGator passará o resto dos seus dias confortável.

Espera que o animal não tenha de partir em breve. “Durante um Verão quente, é bom e fresco dormir com ele.”

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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