Na Vuelta, João Almeida enganou-se no caminho
Mesmo sem o erro bizarro, o português não faria um contra-relógio de “encher o olho”. O tempo não foi mau, mas também não foi ao encontro dos padrões habituais de Almeida.
Para esta terça-feira havia duas questões a responder sobre João Almeida: em que forma está, afinal, o ciclista português e se ainda se trata, em 2022, de um especialista em contra-relógio.
O “crono” da etapa 10 da Volta a Espanha, no soalheiro Sudeste espanhol, ajudou a clarificar ambas as questões: Almeida não está, neste momento, em boa forma e não está, por estes dias, com os predicados de contra-relogista que já mostrou no passado.
Almeida chegou ao pelotão internacional como um especialista na luta contra o cronómetro, mas os desempenhos em “cronos” têm vindo a piorar com o passar do tempo – e também com o trabalho crescente nas virtudes montanhosas.
Nesta terça-feira, Almeida tinha 31 quilómetros para responder às questões e sabia que tinha um percurso longo e maioritariamente plano, ideal para os seus teóricos predicados. E sabia também que, no fim do dia, dificilmente subiria na classificação, mas também era improvável que perdesse lugares. E assim foi.
Às 15h44 fez-se à estrada e às 16h20 terminou o dia no 15.º lugar, com cerca de 20 segundos gastos a mais do que seria suposto, já que à chegada à meta o português… enganou-se no caminho e teve de fazer marcha-atrás.
Mas mesmo sem esse engano Almeida não iria fazer um tempo tremendo. Em rigor, não fez um mau tempo para um trepador, mas fez um registo modesto para os seus padrões habituais.
O sétimo lugar continua a ser do ciclista das Caldas da Rainha, mas por pouco: são apenas cinco segundos de vantagem para Miguel Ángel López, uma das surpresas desta etapa, com um tempo bem melhor do que habitualmente é capaz de fazer.
Remco a “voar”
A outra questão para este contra-relógio era quanto ganharia Remco Evenepoel aos rivais. O camisola vermelha, especialista nesta vertente do ciclismo, era dado como amplo favorito nas casas de apostas e as previsões dos comentadores do Eurosport, todos seis ex-ciclistas World Tour, foram no mesmo sentido: as palavras “Remco” e “Evenepoel” foram repetidas por todos eles, de Contador a Kroon, passando por Voigt.
Restava, portanto, saber não se o belga ganharia, mas por quanto. E a resposta é esta: 48 segundos. O belga venceu a etapa e terminou o dia com 2m41s de vantagem para o segundo classificado, Primoz Roglic, que ultrapassou Enric Mas na geral, apesar do bom tempo do espanhol neste “crono”.
Nesta fase, só falta saber se Remco aguenta três semanas de corrida. Se sim, a Vuelta é dele.
Nesta quarta-feira haverá etapa a pensar em sprinters. O final deverá ser em pelotão compacto, mas já sem Sam Bennett. O ciclista que já “bisou” nesta Vuelta foi parte da cerca de dezena de corredores que já não alinharam nesta etapa, com testes positivos à covid-19.