Eurodeputada Marisa Matias acusa Governo de inacção no controlo da inflação

Marisa Matias diz que “quem paga a conta do supermercado e da energia” conhece o aumento da inflação, “num país em que tudo aumenta (...) e em que só os salários vão ficando sempre estagnados”.

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Para a eurodeputada, o governo prefere "travar os salários à especulação dos preços" EPA/PAULO NOVAIS

A eurodeputada Marisa Matias, do Bloco de Esquerda, acusou sexta-feira à noite, em Coimbra, o Governo português de inacção no controlo da inflação e de proporcionar a quem trabalha uma vida mais difícil.

“A inflação agravou-se com a guerra [na Ucrânia], mas a sua origem é muito anterior. Lembram-se de quando o Governo garantia que a inflação seria passageira? Hoje já toda a gente sabe que não é”, disse no Fórum Socialismo, que decorre até domingo, durante a sessão internacionalista “A Europa dos Povos”.

Marisa Matias sublinhou que “quem paga a conta do supermercado e da energia” conhece o aumento da inflação, “num país em que tudo aumenta, dos bens essenciais aos dividendos das grandes empresas, em que só os salários vão ficando sempre estagnados”.

“Ao preferir travar os salários à especulação dos preços, a inacção do Governo só promete uma coisa: a quem trabalha uma vida mais difícil ainda”, sublinhou a eurodeputada bloquista, salientando que o grande desafio passa medidas económicas e financeiras que permitam colocar as pessoas e a natureza à frente das prioridades.

Para isso, “é, obviamente, necessário romper o caminho dos lucros ilimitados e da exploração das pessoas e da natureza”, defendendo a eliminação dos combustíveis fósseis da base do crescimento económico e a reintrodução do “controlo público dos sectores económicos estratégicos”.

“A crise climática, o aumento das desigualdades e da injustiça e a ameaça às democracias pelas forças da extrema-direita têm de ser enfrentadas com acções sectoriais concretas e respostas combinadas, que permitam um compromisso com a justiça global, a protecção de quem trabalha e distribuição da riqueza e do poder”, sublinhou.

“Nunca devemos subvalorizar a guerra nem o armamento, nem ignorar a crise estrutural da própria crise do sistema capitalista”, disse a eurodeputada do BE, acrescentando que é necessário “um caminho de reivindicações e acções que incidam sobre o sistema e o transformem”.

Salientando que a Europa está dominada pela agressão imperialista da Rússia à Ucrânia, com a crise climática no centro da política, Marisa Matias considerou urgente o diálogo para fazer “caminhos e acções comuns”.

“É a defesa da ecologia humana que está em causa e isso exige-nos a capacidade de criarmos alianças amplas, que nos ajudem a fazer o caminho do desarmamento controlado, da erradicação das armas de destruição maciça para uma efectiva transição energética”, referiu.

“Necessitamos de alianças nacionais e internacionais que possam abranger sectores laicos e religiosos, dissidentes do militarismo e partidários da paz, forças políticas e movimentos sociais, figuras públicas e massas populares, artistas, cientistas, académicos e outros profissionais”, acrescentou.

A eurodeputada do BE criticou ainda a Europa por “décadas de promessas e muito poucos avanços” na acção climática, e de manter uma “política económica de exploração da natureza, dos recursos e das pessoas, que continua a destruir as fundações da própria vida e do próprio planeta”.

Numa análise às eleições angolanas, cujos resultados provisórios apontam para a vitória do Movimento Pela Libertação de Angola (MPLA), Marisa Matias apontou duas certezas: “o regime cleptocrata do MPL perde milhares de votos e tem significativas derrotas, desde logo em Luanda” e que “A mudança em Angola não nasceu na última quarta-feira [dia das eleições], nem tão-pouco na campanha eleitoral”.

Na sessão internacionalista “A Europa dos Povos”, que abriu com a intervenção do dirigente bloquista José Manuel Pureza, interveio ainda a eurodeputada do Podemos Idóia Villanueva e do deputado do Sinn Féin Paul Maskey.

O Fórum Socialismo, organizado pelo BE, decorre até domingo com a realização de 46 debates, encerrando com a intervenção da líder Catarina Martins.