Com a mesma semente, o Benfica colheu o mesmo fruto

O Benfica foi ao Bessa derrotar o Boavista, novamente com utilização da força nas bolas paradas, algo já habitual nesta temporada. O jogo esteve longe de ser fácil, mas o resultado desnivelado foi-se compondo para o Benfica com mérito “encarnado” nuns momentos e demérito boavisteiro noutros.

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LUSA/MANUEL FERNANDO ARAUJO

Roger Schmidt continua pouco disponível para alterar o “onze” do Benfica sem estar obrigado a isso e os “encarnados” continuam a colher os frutos. Com um triunfo (3-0) frente ao Boavista, neste sábado, na jornada 4 da I Liga, o Benfica mostrou ainda que a receita habitual de Schmidt não se fica pela escolha dos artistas: também a via para o golo – no caso, a bola parada – continua a ser muito apreciada e explorada com sucesso neste início de 2022/23.

Também nisso a influência do “espião” Javi Garcia pode ter tido impacto, já que o ex-capitão do Boavista, agora adjunto de Schmidt, saberia, por certo, o quanto a equipa nortenha vacila na defesa das bolas paradas – algo que já vem da época anterior.

O jogo esteve longe de ser fácil, mas o cenário foi-se compondo para o Benfica com mérito “encarnado”, nuns momentos, e demérito boavisteiro, noutros.

Boavista com sistema híbrido

Para este jogo o Boavista trouxe um modelo de jogo semelhante ao que já tinha apresentado na temporada anterior nos jogos contra os “grandes”: três centrais e dois alas quase sempre como laterais.

A diferença pareceu estar num plano híbrido sem bola, que tanto colocava a equipa num 5x4x1 (sobretudo quando Enzo baixava em construção), como de repente aparecia num 5x2x3 com uma pressão mais alta, essencialmente quando havia construção apenas pelos centrais “encarnados” – e, portanto, um momento de maior probabilidade de erro.

Sem elaborar muito a construção, o Boavista até começou o jogo com capacidade de ferir o Benfica, uma equipa claramente menos fulgurante sem bola – algumas das vezes de forma consentida, já que era clara a posição mais baixa dos médios, apostados sobretudo em momentos de contra-transição, quando o Boavista tentava surpreender em velocidade.

O Boavista apresentou-se sem pudor em colocar um central a acompanhar os alas do Benfica, dilema que existe sempre nas equipas com três centrais que defrontam equipas com sistemas mais clássicos com extremos declarados. E isso acabou por “empenar” em vários momentos a forma como Neres e João Mário eram servidos, limitando a capacidade da equipa lisboeta em ligar o jogo.

Como desbloquear este problema? Com a “receita” habitual. Na antevisão do jogo alertou-se para o facto de o Boavista ter sido a terceira equipa com mais golos sofridos em bolas paradas em 2021/22 e para o Benfica estar, em 2022/23, especialmente profícua nesse pelouro.

Resultado: canto de Neres aos 30’, marcação zonal deficiente e cabeceamento vitorioso de Morato, central que já estava, antes do golo, com especial fulgor, com vários duelos ganhos.

O Benfica ainda teve duas boas oportunidades de golo aos 40’ e 45’, mas os insucessos de Ramos e João Mário davam nexo a um jogo que não justificava mais do que a vantagem mínima.

Musa contra a ex-equipa

Para a segunda parte o Boavista não mudou o sistema e nem a própria zona de pressão foi alterada. O que mudou foi a postura do Benfica, que não teve problema em entregar a bola aos boavisteiros em vários momentos.

A ideia seria seduzir a equipa de Petit a “esticar-se” no campo e abrir mais espaço para Rafa explorar em transições – e o português tentou fazê-lo de forma clara, passando menos tempo na zona central.

Esta maior mobilidade de Rafa criou mais problemas ao Boavista, que perdeu referências de marcação e deixou de conseguir travar a velocidade do internacional português – até porque o menor fulgor físico do meio-campo começou a fazer-se sentir no atraso constante a chegar ao portador da bola.

Mas até nem foi por aí que o Benfica resolveu o jogo. Aos 68’, um novo erro defensivo do Boavista, conjugado com o poder físico do recém-entrado Musa, permitiu ao avançado servir Rafa no centro da área, para a finalização de João Mário.

Aos 82’, Musa (que entrou bem em jogo) foi derrubado na área, o VAR aconselhou João Pinheiro a assinalar penálti e João Mário fez o 3-0.

O jogo esteve longe de ser fácil, mas o cenário foi-se compondo para o Benfica com mérito “encarnado”, nuns momentos, e demérito boavisteiro, noutros.

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