UNITA não reconhece resultados provisórios
Resultados oficiais atribuem a vitória com maioria absoluta ao MPLA, partido no poder, ainda que mostrem o principal partido da oposição com uma grande subida, principalmente em Luanda.
A UNITA não reconhece os resultados eleitorais oficiais das eleições angolanas. “O MPLA não ganhou as eleições no dia 24, pelo que a UNITA não reconhece os resultados provisórios anunciados pela Comissão Nacional Eleitoral”, afirmou esta tarde o candidato a chefe de Estado e presidente do maior partido da oposição, Adalberto Costa Júnior, numa conferência de imprensa. À porta do complexo Sovsmo, em Viana, a festa fez-se de imediato entre os apoiantes da UNITA, com mulheres que dançavam e muitos jovens gritando “ACJ, ACJ”, entre alguns gritos de “Ganhámos”.
Ladeado pelo candidato da UNITA a vice-presidente, Abel Chivukuvuku, e pelo “número 3” do partido, Filomeno Vieira Lopes, Adalberto Costa Júnior leu uma declaração sem perguntas. “A direcção da UNITA desafia a Comissão Nacional Eleitoral, em nome da verdade, a aceitar a estruturação de uma comissão de inquérito com participação internacional para ser feita a comparação entre as actas síntese em posse da CNE com as actas síntese em posse dos partidos políticos”, afirmou.
Todos os partidos fizeram a sua contagem paralela, assim como algumas associações. Para o fazer baseiam-se nas actas síntese das assembleias, que têm o resultado somado de todas as mesas.
“Apelamos a todos os angolanos e angolanas a manterem-se calmos, serenos e confiantes na direcção da UNITA, na esperança de que pela força do vosso voto concretizem a tão almejada alternância”, pediu o principal opositor do Presidente, João Lourenço. “Não existe a menor dúvida em afirmar que o MPLA não ganhou as eleições de 24 de Agosto”, repetiu, peremptório.
A última contabilização oficial divulgada, com 97,03% dos votos escrutinados, dá 51,07% e 124 mandatos ao MPLA, no poder desde 1975, e 44,05% e 90 lugares à UNITA — cabendo os restantes seis eleitos a três pequenas forças partidárias. “Esta foi uma eleição histórica. As eleições mais disputadas da história de Angola”, sublinhou Adalberto Costa Júnior.
Na véspera, com 39,8% das actas síntese das assembleias de voto apuradas, a UNITA tinha divulgado que a sua contagem dava 47,99% ao MPLA contra 46,89% da UNITA, assim como vitórias do partido da oposição nas mesmas províncias que o apuramento oficial da Comissão Nacional Eleitoral lhes atribui: Luanda, Cabinda e Zaire. Mas com uma diferença tão curta para o partido no poder, e com tantas actas ainda por apurar, a UNITA já dizia acreditar na vitória.
“Estes valores que estamos a obter à nossa velocidade vão fazer com que, no global, a nossa percentagem suba”, afirmou ao PÚBLICO Anastácio Sicato, figura histórica do partido do Galo Negro. Se será suficiente para lhes dar a vitória, o dirigente da UNITA diz que sim: “São as indicações que temos até este momento, vamos dar tempo ao tempo, daqui a mais dois dias teremos os resultados.”
Ainda sem ter a contagem terminada, Adalberto Costa Júnior quis deixar alguns exemplos de discrepâncias claras entre os dados oficiais e a contagem paralela do seu partido: na província de Luanda, já com 99,9% das actas, a UNITA apurou ter obtido mais 187.234 votos do que o anunciado oficialmente (no total, a contagem oficial dá ao partido 1.230.213 votos e a paralela 1.417.447); já no Cuanza Sul, com 98,98% de votos contados, a CNE dá ao partido do Presidente 230.160 votos, enquanto a UNITA, com 100% das actas, apurou 154.628 - uma diferença de 78.532 votos.
O terceiro exemplo apresentado refere-se à província do Moxico, onde a contagem oficial da CNE, com 95,2% dos votos, atribuiu 45.058 votos à UNITA; já a contagem do partido, com apenas 79% das actas escrutinadas, vai em 61.378. Na prática, isto significaria pelo menos mais um mandato. Também na província de Luanda, notou o candidato, a diferença de votos apurada teria permitido à UNITA eleger mais deputados.
Noutro sinal de irregularidades, o líder da UNITA descreveu como passadas 48 horas do encerramento das urnas ainda se votava em duas assembleias de voto no Moxico, a maior província de Angola, no Leste do país.
“As discrepâncias dos mandatos atribuídos pela CNE são brutais, comparando com as actas em nossa posse e, como é óbvio, com as actas na posse da CNE que as produziu e as afixou”, resumiu ainda Adalberto Costa Júnior. “Para proteger o voto do povo do assalto daqueles que ainda não entenderam o conceito de democracia, porque não a praticam, criámos um sistema de escrutínio paralelo com base nas actas síntese recebidas legalmente dos nossos delegados de lista”, explicou. Como dizia na véspera Anastácio Sicato, “as actas são as mesmas, o que é normal é que cheguemos aos mesmos resultados”.