Madrid: monumental, majestosa, descontraída e vibrante
A leitora Maria Goreti Catorze explica a sua paixão pela capital espanhola.
Antes de começar a falar de Madrid quero dizer-vos uma coisa: os madrilenos, os espanhóis e os latino-americanos em geral adoram Lisboa. Abre-se-lhes no rosto um sorriso de felicidade quando sabem que venho de lá. Mostro-me surpreendida com tanto entusiasmo pela nossa capital.
No início deste Verão, quando a visitei, Madrid estava sempre acima dos 30 graus, enquanto Lisboa amofinava com vento, nuvens e chuviscos. Mas nada os demove, gostam de Lisboa assim mesmo, quase açoriana, a parecer que tem quatro estações no mesmo dia.
Reconheço alguma serenidade nesse cinzentismo temperado mas prefiro o calor sufocante e a movida contemporânea de Madrid. Creio que os portugueses subestimam esta cidade: sendo vizinhos, falta-lhes o distanciamento necessário para apreciá-la devidamente. Fomos demasiado rivais no passado para olhá-la sem constrangimentos ou preconceitos no presente.
Percorrer Madrid com atenção derruba essas barreiras. É monumental, majestosa, descontraída e vibrante ao mesmo tempo. Não encontro tílias, jacarandás ou tipuanas mas os ligustros floridos perfumam as ruas com um aroma intenso. Apesar do calor (ou por causa dele), ninguém fica em casa, milhares de pessoas circulam pelo sol e pela sombra da cidade. A cimeira da NATO (por aqui usa-se OTAN) é só um pequeno transtorno neste vaivém constante. A rede de transportes públicos é excelente.
Há um top 10 turístico de Madrid, todas as cidades o têm, mas cada viajante elabora o seu. É essa a fuga dos leitores. A minha, neste início de Julho, consiste em ficar hospedada num hotel da Gran Vía, tomar o pequeno-almoço no terraço do 10.º piso enquanto contemplo o voo rasante das andorinhas nos telhados e as fachadas dos prédios, alguns neoclássicos, outros modernistas.
Fixo o olhar na cúpula negra do edifício Madrid-Paris, encimada pela fénix de bronze que sustém uma figura feminina de braço levantado. A seguir perscruto o horizonte com a serra de Guadarrama a norte, as torres e o casario da cidade plana cá em baixo, o amarelo das planícies ondulantes que se estendem até Toledo e por fim imagino a vida dos árabes no Alcazar de Madrid onde hoje se ergue o imponente palácio real.
De manhã cedo caminho até ao Parque da Montanha, admiro o templo egípcio de Debod e a vista do jardim para o vale do rio Manzanares. Ao anoitecer sugiro um passeio ao Parque do Retiro, onde o lago se enche de barcos a remos e se podem visitar as exposições temporárias nos palácios de Velázquez e de Cristal. Estão lá obras de Carlos Bunga e Néstor Sanmiguel Diest. Também os quadros de Goya, Velázquez, Dalí, Miró, Ribera, Zurbarán, Picasso estão em Madrid (a Guernica no museu Reina Sofia).
São todos geniais, todos espanhóis, só eles seriam suficientes para tornar Madrid e a Espanha grandiosos. Volto a Lisboa e às suas manhãs nubladas: esta é definitivamente uma cidade atlântica. Afinal tenho saudades de ouvir música portuguesa na rádio pública (será que a nossa pátria ainda é a língua portuguesa?). Madrid, no coração da Península Ibérica é para apreciadores de climas continentais.
Maria Goreti Catorze