Rochas vulcânicas de Marte foram alteradas por água líquida, revela o robô Perseverance
Dois locais distintos foram analisados pelo robô Perseverance, há um ano e meio a circular em Marte. As análises às rochas desses locais mostram alterações provocadas pela passagem de água líquida.
Análises feitas pelo robô norte-americano Perseverance a amostras de rochas vulcânicas recolhidas em Marte indicam que estas rochas foram alteradas por água líquida. O veículo robótico Perseverance pousou em Fevereiro de 2021 na cratera Jezero, onde terá havido um lago e um delta (foz de um rio), no âmbito de uma missão conduzida pela agência espacial norte-americana NASA.
De zonas distintas do fundo da cratera, umas mais fundas do que outras, foram recolhidas e analisadas pelo robô amostras de rochas ígneas (formadas pela solidificação do magma), que posteriormente passaram por alterações por acção da água em estado líquido, de acordo com os autores de quatro artigos publicados agora nas revistas científicas Science e Science Advances.
As amostras rochosas, guardadas em tubos no robô, serão posteriormente enviadas numa outra missão para a Terra, onde se espera que cheguem em 2033 para serem analisadas com mais detalhe.
Ambas as missões enquadram-se no propósito da procura de vida microbiana passada em Marte, actualmente um planeta inóspito. A água em estado líquido é uma condição essencial para a vida tal como se conhece.
Segundo um dos investigadores envolvido num dos estudos, David Shuster, geoquímico e professor na Universidade da Califórnia (Estados Unidos), a análise laboratorial das amostras na Terra vai permitir aos cientistas datá-las e aferir com maior rigor quando é que existiu o lago que hoje é uma cratera e em que altura as “condições ambientais poderiam ter sido propícias à vida.”
Algumas questões ainda em aberto resumem-se a quando é que o clima em Marte foi favorável à formação de lagos e rios na sua superfície e quando é que mudou para as condições muito frias e secas actuais.
Antes da missão com o robô Perseverance, os geólogos pensavam que a cratera estava à superfície cheia de sedimentos ou de lava (material em fusão expelido pelos vulcões e de cuja solidificação, por arrefecimento, resultam rochas vulcânicas).
No entanto, em dois locais, numa zona da cratera identificada pelo nome Séítah, as rochas parecem ter-se formado no subsolo e durante o arrefecimento lento de uma espessa camada de magma (massa de minerais em fusão). O que quer que cobrisse estas rochas ígneas terá erodido nos últimos 2500 a 3500 milhões de anos, de acordo com os cientistas.
As rochas de Séítah apresentam uma composição semelhante a alguns meteoritos marcianos, sendo feitas principalmente de olivina (grupo de minerais abundante na Terra que pode ter cor esverdeada e tem silicatos de magnésio e ferro).
De uma outra zona da cratera, chamada Máaz, foram retiradas rochas ígneas que parecem ter-se formado por arrefecimento mais rápido e são mais ricas em piroxena (grupo de minerais que tem silicatos de magnésio, ferro e cálcio).
Segundo os investigadores, as rochas de Máaz podem ter feito parte da camada superior de um lago de magma que encheu a cratera e arrefeceu lentamente, uma vez que se sobrepõem à camada rochosa exposta na zona de Séítah. Outra hipótese admitida é que as rochas ígneas de Máaz podem ser resultado de uma erupção vulcânica posterior.
Tanto as rochas de Séítah como as de Máaz revelam alterações produzidas pelo efeito de água líquida, embora de modo diferente, de acordo com os estudos. As rochas de Máaz contêm bolsas de minerais que podem ter condensado a partir de salmoura (água saturada de sal) e as rochas de Séítah reagiram com água carbonatada (água com gás carbónico).