Há uma borboleta que esteve extinta no Reino Unido e agora voa aos milhares

A grande-borboleta-azul ficou extinta no Reino Unido em 1979, mas agora o Sudoeste de Inglaterra é a região do mundo onde existem mais exemplares desta espécie.

Foto
Uma das borboletas da espécie Phengaris arion fotografadas no Reino Unido David Simcox

Este foi o melhor Verão dos últimos 150 anos, pelo menos para esta borboleta que já esteve extinta em solo britânico. A grande-borboleta-azul (Phengaris arion) teve os melhores registos dos últimos 150 anos no Reino Unido: os cientistas contaram 750 mil ovos destas borboletas e estima-se que cerca de 20 mil tenham voado durante este Verão.

A grande-borboleta-azul, como é conhecida em inglês, foi identificada pela primeira vez em 1758. Mais de 200 anos depois, em 1979, foi declarada extinta no Reino Unido, tal como aconteceu na Bélgica e nos Países Baixos, em grande parte por causa da gestão do solo, mas também da poluição do ar, dos insecticidas, e dos coleccionadores.

Foto
Uma borboleta fêmea num dos locais criados para a conservação desta espécie Jeremy Thomas

As boas notícias chegaram quatro anos depois: a espécie voltou a ser introduzida na natureza, utilizando larvas de borboletas vindas da Suécia. Foi salva da extinção local e, agora, o Sudoeste de Inglaterra tornou-se o local do mundo com maior concentração destas borboletas.

“É incrivelmente gratificante”, afirmou à BBC o ecólogo David Simcox, um dos responsáveis pela reintrodução da borboleta em 1983. “Claro que tínhamos esperança, mas os primeiros dez anos foram muito difíceis, com menos de dez mil ovos.” Em Junho deste ano, foram contados mais de 700 mil ovos desta espécie que não existe em Portugal.

Como se lê no comunicado da Real Sociedade Entomológica de Londres, uma das organizações envolvidas no projecto de recuperação, esta borboleta tem um “ciclo de vida bizarro”: a lagarta que dará origem à borboleta produz odores e sons que levam as formigas Myrmica sabuleti a acreditarem que se trata de uma das suas larvas. Assim, “adoptam-nas” e levam-nas para o ninho de formigas subterrâneo.

Aí, as lagartas de borboletas passam dez meses a alimentarem-se das larvas de formigas. Depois, entram na fase de crisálida (casulo) até emergirem como borboletas. Ao saberem deste “capricho” das borboletas, os cientistas conseguiram perceber que estes insectos dificilmente sobreviverão sem a presença destas formigas acastanhadas.

Foto
A larva da borboleta Phengaris arion e as formigas que ludibriam Sarah Meredith

O programa de conservação desta espécie inclui a adaptação de certos lugares para prados cobertos de flores, que são também benéficos para outras espécies de insectos. “O maior desafio daqui em diante é assegurar a expansão destas borboletas num clima cada vez mais quente e desenvolver estratégias para mitigar os impactos dos eventos climáticos extremos”, disse David Simcox, citado no comunicado da Real Sociedade Entomológica de Londres, a que pertence.

Apesar destas boas notícias, esta é uma das espécies de borboletas mais ameaçadas da Europa e as borboletas como um todo estão a desaparecer. As borboletas servem de indicadoras da biodiversidade, o que significa que também outros insectos estão numa rota descendente. Um estudo feito na Alemanha mostra-o bem: em 25 anos, desapareceram três quartos dos insectos voadores das reservas naturais do país.