Ministro dos Negócios Estrangeiros português faz visita-surpresa a Kiev

João Gomes Cravinho chegou nesta quarta-feira de manhã à capital ucraniana para uma visita-surpresa, no dia em que a Ucrânia celebra o 31.º aniversário da sua independência. Ministro reuniu-se com o homólogo ucraniano e com Volodymyr Zelensky.

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Ministro dos Negócios Estrangeiros português chegou a Kiev durante a manhã de quarta-feira LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

O ministro dos Negócios Estrangeiros português fez, nesta quarta-feira, data em que a Ucrânia assinala o Dia da Independência, uma visita-surpresa a Kiev. João Gomes Cravinho chegou à capital da Ucrânia durante a manhã “para uma deslocação oficial que decorre nesta quarta-feira”.

“No dia em que passam, precisamente, seis meses desde a invasão da Ucrânia e em que o país celebra o 31.º aniversário da sua independência, o chefe da diplomacia portuguesa assinala in loco esta importante e simbólica data, reiterando o apoio e a cooperação de Portugal ao país em guerra”, refere um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) enviado às redacções.

“Portugal está activamente envolvido no plano de reconstrução da Ucrânia Fast Recovery Plan e assumiu como prioridade a reconstrução de escolas, nomeadamente na cidade de Jitomir, onde vários estabelecimentos de ensino foram, parcial ou totalmente, destruídos”, acrescenta.

Na visita-surpresa, o ministro dos Negócios Estrangeiros visitou a cidade de Irpin, nos arredores de Kiev, e condenou “crimes de guerra” apontados às forças russas, durante uma visita em que foi recebido pelo chefe de Departamento de Relações Externas da Administração Regional de Kiev. Ao ver ao vivo o nível de destruição desta cidade-satélite de Kiev, João Gomes Cravinho sublinhou: “vêem-se bairros e bairros residenciais e não há aqui nenhum objectivo militar que justifique” os ataques russos.

O ministro português assinalou a visita no Twitter.

“É uma honra estar em Kiev neste dia de grande simbolismo, em que se celebram os 31 [anos] da independência que a Rússia procurou esmagar”, escreveu. “Trago de Portugal uma mensagem de solidariedade, e de apoio político, militar, financeiro e humanitário.”

João Gomes Cravinho reuniu-se com Zelensky e com homólogo ucraniano

O MNE revelou ainda que, “após visita ao memorial de homenagem às vítimas do conflito, em Kiev”, tinha marcado um encontro com o seu homólogo Dmytro Kuleba, estando previstas “declarações no final da reunião bilateral”. A reunião decorreu nesta quarta-feira de manhã, na capital ucraniana.

João Gomes Cravinho reuniu-se também com o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, um encontro que foi revelado apenas cerca das 14h (12h em Lisboa) em declarações aos jornalistas portugueses em Kiev, tendo sido esse o motivo para o cancelamento da visita ao Muro Memorial dos Defensores caídos.

A visita estava prevista para as 11h (9h em Lisboa) e foi cancelada sem terem sido indicados os motivos, inicialmente. Segundo o ministro português, Zelensky “transmitiu alguns pedidos de natureza militar”, que incluem a possibilidade de fornecimento de fardas ao Exército ucraniano.

“Irei partilhar [esses pedidos] com a minha colega [da Defesa] e com o senhor primeiro-ministro”, disse João Gomes Cravinho, manifestando que Portugal está sempre disponível para estudar as possibilidades de novos apoios.

Nas declarações aos jornalistas, o ministro dos Negócios Estrangeiros referiu que as Forças Armadas ucranianas tiveram “uma expansão muito rápida, por razões óbvias, e uma incorporação muito grande de militares nas suas fileiras” e que agora, “além de todas as necessidades de equipamento militar, portanto de natureza bélica, há também necessidades de fardas, tudo aquilo que a nossa indústria têxtil pode produzir”.

No que toca a stocks militares, o ministro observou que Portugal terá “alguma dificuldade” em corresponder, mas “talvez ainda existam possibilidades”, que serão exploradas após o seu regresso a Lisboa.

​Em relação a novos temas no pacote de ajuda, João Gomes Cravinho referiu que “há mais matérias” que o Governo português vai igualmente estudar: “Os pedidos da Ucrânia têm surgido de forma contínua, à medida que a situação vai evoluindo. Nesse quadro, vamos estudando as possibilidades que temos de corresponder.”

“Conversa entre amigos” com Cravinho, disse ministro ucraniano

Às 10h40, hora local, foi escutado em Kiev o alarme de ameaça aérea por breves minutos. O encontro oficial dos dois ministros dos Negócios Estrangeiros, que se seguiria à visita cancelada ao memorial, manteve-se no programa e terminou cerca das 11h30 (9h30 em Lisboa).

O chefe da diplomacia ucraniana descreveu o encontro com João Gomes Cravinho como uma conversa entre amigos que “estão preparados para se apoiar mutuamente”.

“Foi uma conversa entre amigos que se entendem muito bem e que estão preparados para se apoiar mutuamente”, disse Kuleba no final do encontro, em declarações recolhidas pela RTP. Kuleba assinalou que a visita de Cravinho tem um significado especial por ocorrer num dia importante para a Ucrânia.

Recordou que o ministro português esteve em Kiev há um ano, quando “representou Portugal na cimeira da Plataforma da Crimeia”, a península ucraniana anexada em 2014 pela Rússia. Na altura, João Gomes Cravinho era ministro da Defesa e assistiu também às comemorações oficiais dos 30 anos da independência da Ucrânia.

“Acabámos de conversar sobre o apoio que temos recebido de Portugal e de outros países da UE”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano sobre o encontro. Kuleba disse que Cravinho também o informou sobre a comunidade ucraniana que vive em Portugal: “Louvou-a por ser uma parte importante da sociedade.”