Japão intensifica investimento no nuclear para estabilizar fornecimento de energia

Uma década após o desastre de Fukushima, o Japão volta a investir na energia nuclear devido à crise da Ucrânia e ao aumento dos custos da energia. A estratégia pode fazer parte da “transformação verde” do arquipélago.

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Central nuclear de Fukushima Daiichi Reuters/SAKURA MURAKAMI
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Fumio Kishida, primeiro-ministro do Japão, diz que o país vai reactivar mais centrais nucleares Reuters/POOL

O Japão vai reactivar mais centrais nucleares e investir no desenvolvimento de novos reactores, mais modernos, informou esta quarta-feira o primeiro-ministro Fumio Kishida. O Governo japonês também vai analisar a possibilidade de prolongar a vida útil de alguns dos reactores existentes. A decisão representa uma mudança política no país no que toca à energia nuclear, uma década após o desastre de Fukushima.

A crise na Ucrânia e o aumento dos custos da energia forçaram uma mudança na opinião pública do Japão e levaram a uma nova análise da política em relação à energia nuclear.

A maioria das centrais nucleares do Japão está inactiva há cerca de dez anos, desde que um grande terramoto e tsunami em 2011 desencadeou um derretimento de combustível nuclear na central nuclear de Fukushima Daiichi. Na altura, o Japão, que é um país propenso a tremores de terra, disse que não construiria novos reactores – uma mudança nessa política representa uma viragem brusca.

O arquipélago do Japão, que está na junção de quatro placas tectónicas, regista cerca de 20 por cento dos tremores de terra mais violentos do mundo.

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Tanques de armazenamento na central nuclear de Fukushima Daiichi, na cidade de Okuma SAKURA MURAKAMI/Reuters

Nuclear na “transformação verde"

A energia nuclear não é apenas vista como uma forma de fazer frente ao aumento dos custos da energia, é agora vista por alguns no governo como um componente para a chamada “transformação verde”, que tem como objectivo reequipar a terceira maior economia do mundo para cumprir os objectivos ambientais.

A opinião pública também mudou, à medida que os preços dos combustíveis subiram e que um Verão precoce e quente estimulou os apelos à poupança de energia.

Fumio Kishida disse que tinha instruído os funcionários para que apresentassem medidas concretas até ao final do ano, incluindo a “obtenção da compreensão do público” sobre energia sustentável e energia nuclear.

“É o primeiro passo para a normalização da política energética do Japão”, explica Jun Arima, professor de política pública da Universidade de Tóquio.

O Japão precisa de energia nuclear porque a sua rede não está ligada aos países vizinhos, nem é capaz de aumentar a produção de combustíveis fósseis domésticos, diz Arima.

No mês passado, o governo disse que esperava reiniciar mais reactores nucleares a tempo de evitar qualquer crise de energia durante o Inverno. No final de Julho, o Japão tinha sete reactores em funcionamento e três em manutenção. Outros estão a passar por processos de licenciamento para respeitar as normas de segurança mais rigorosas que foram impostas após-Fukushima.

O Governo japonês também quer analisar a possibilidade de prolongar a vida útil dos reactores existentes. Ao abrigo dos regulamentos actuais, o Japão tem de desactivar as suas centrais após um período predeterminado (por norma, 60 anos).