Bolsonaro garante que vai respeitar o resultado. Mas só se as eleições “forem livres e transparentes”
Numa entrevista com a TV Globo, Presidente brasileiro e candidato à reeleição em Outubro defendeu resposta do seu Governo à pandemia e à crise económica, e não desfez todas dúvidas sobre a sua posição em caso de derrota para Lula.
Jair Bolsonaro, Presidente do Brasil e candidato à reeleição nas próximas eleições presidenciais, afirmou na segunda-feira à noite, numa entrevista no “Jornal Nacional”, da TV Globo, que vai reconhecer e respeitar o resultado da votação de Outubro. Mas com uma condição: “Desde que as eleições sejam limpas e transparentes”.
Para os seus críticos esta escolha específica de palavras – que encontra semelhanças com a posição que o ex-Presidente norte-americano Donald Trump assumiu durante toda a campanha para as eleições de 2020 nos Estados Unidos, perdidas para Joe Biden, e cujo desfecho ainda hoje contesta – é tudo menos reconfortante.
Segundo a última sondagem da Datafolha, divulgada na semana passada, Bolsonaro (32%) está a cerca de 15 pontos percentuais de Luiz Inácio Lula da Silva (37%) na primeira volta das eleições brasileiras.
Baseado nas intenções de voto dos inquiridos que dizem que vão votar noutros candidatos na primeira volta, o modelo da Datafolha aponta para uma vitória do antigo Presidente (2003-2011) e candidato do Partido dos Trabalhadores na segunda ronda, com 54% dos votos – contra 37% do Presidente e representante do Partido Liberal.
Na entrevista com a TV Globo, Bolsonaro voltou a levantar dúvidas sobre a fiabilidade do sistema de voto electrónico, recordando suspeitas baseadas em denúncias relativas às eleições de 2018 que, no entanto, já foram contestadas pelo Tribunal Superior Eleitoral e pela Polícia Federal.
Questionado sobre os insultos que fez aos juízes do TSE e se as suspeitas que tem vindo a lançar publicamente sobre o sistema eleitoral brasileiro pretendem “criar um ambiente” que “permita um golpe”, o Presidente começou por acusar o jornalista William Bonner de estar a propagar “fake news”.
Mas depois de ter sido recordado que chamou “canalha” ao presidente do TSE, Alexandre de Moraes – o Estadão lembra que também chamou “otário”, “imbecil” e “aquele filho da puta” a Moraes e a outros magistrados –, Bolsonaro explicou que só defende a “transparência nas eleições”.
“Se você pode botar uma tranca a mais na sua casa, para evitar que ela seja assaltada, você vai fazer ou não? Esse é objectivo disso que eu tenho falado sobre o TSE”, afirmou.
Jair Bolsonaro garantiu ainda que os cânticos ou louvores à ditadura militar proferidos por alguns apoiantes em manifestações de apoio à sua candidatura são fruto da “liberdade de expressão” no país. Mas assegura que não apoia essas posições.
“Quando alguns falam em fechar o Congresso, é liberdade de expressão deles. Eu não levo para esse lado”, afiançou.
“Só não se vacinou quem não quis”
O Presidente brasileiro também foi questionado sobre a resposta do seu Governo à pandemia. Responsabilizando a Pfizer pelo atraso na assinatura do contrato de compra de doses de vacinas, garantiu, ainda assim, que “só não se vacinou quem não quis”.
E rebatendo as acusações de desvalorização da gravidade da doença, Bolsonaro não deixou de criticar a imprensa por ter “desautorizado os médicos a receitar remédios” não comprovados para o combate ao coronavírus, como a hidroxicloroquina. Foi “um momento de fraqueza” dos media, atirou o chefe de Estado.
O Brasil é o segundo país do mundo com mais mortes de covid-19 (mais de 682 mil mortos) e os opositores políticos de Bolsonaro rotulam-no de “genocida”, por aquilo que consideram ter sido uma gestão danosa da emergência sanitária no país.
Uma comissão parlamentar de inquérito no Senado indiciou mesmo Bolsonaro por nove crimes, incluindo o de “charlatanismo”, prevaricação, infracção de medida sanitária preventiva e epidemia com resultado de morte. O Ministério Público pediu, no entanto, o arquivamento das denúncias feitas no relatório, pelo que o Supremo Tribunal Federal está agora a analisar o caso.
Quanto à economia, Jair Bolsonaro explicou que a pandemia, a seca de 2021 e a guerra na Ucrânia não lhe permitiram cumprir as promessas feitas em 2018, mas argumentou que o Brasil teve um “saldo de quase três milhões de novos empregos”.
Apesar de o Estadão sublinhar que o Presidente brasileiro disse “uma mentira a cada três minutos”, a Folha de S.Paulo dá esta terça-feira conta de os aliados e a equipa de campanha de Bolsonaro terem ficado satisfeitos com a sua prestação no “Jornal Nacional”.
“A maior preocupação do entorno de Bolsonaro era que ele pudesse perder o equilíbrio e cometer grosserias, especialmente com a apresentadora Renata Vasconcellos. Na avaliação deles, o Presidente manteve o controlo e evitou atritos”, escreve o diário paulista.