Giorgia Meloni acusada de utilizar vídeo de violação para “fins eleitorais”

Líder da direita italiana divulgou nas redes sociais um vídeo de uma mulher ucraniana a ser violada por um requerente de asilo na cidade de Piacenza. Meloni está a ser acusada de usar a vítima para tirar proveito para a sua campanha para as eleições de Setembro.

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EPA/FABIO CIMAGLIA

Giorgia Meloni, líder da extrema-direita transalpina e a candidata mais bem colocada para chefiar o próximo governo da Itália, está a ser alvo de duras críticas depois de publicar um vídeo de uma mulher ucraniana a ser violada por um requerente de asilo.

No domingo, uma mulher de 55 anos foi atacada numa rua da cidade de Piacenza por um homem oriundo da Guiné, disseram as autoridades locais. O crime foi filmado por um morador através da janela de um apartamento. A polícia confirmou entretanto que o suspeito de violação está detido enquanto a investigação prossegue.

Meloni é a líder do Irmãos de Itália (Fratelli d`Italia, ou FDI,​ na sigla italiana), o partido pós-fascista que ajudou a fundar, enterrada a Aliança Nacional que sucedera aos neofascistas do Movimento Social Italiano. Chegou às últimas legislativas, em 2018, como parceiro menor da coligação que junta a extrema-direita à direita de Silvio Berlusconi. Desde então é o único partido que tem vindo sempre a crescer, obtendo de 23% a 25% das intenções de votos nas últimas sondagens.

Meloni partilhou, no Instagram, o vídeo do ataque, que tinha sido partilhado antes por um jornal italiano com a imagem censurada. “Não se pode ficar calado diante deste atroz episódio de violência sexual contra uma mulher ucraniana cometido durante o dia em Piacenza por um requerente de asilo”, escreveu Meloni. “Um abraço a esta mulher. Farei tudo o que puder para restaurar a segurança nas nossas cidades.”

No Twitter, a mesma partilha atraiu uma enxurrada de críticas, tanto de cidadãos comuns como de adversários políticos de Meloni. “É indecente usar imagens de uma violação. Ainda mais indecente é fazê-lo para fins eleitorais. O respeito pelas pessoas e pelas vítimas vem sempre em primeiro lugar”, escreveu Enrico Letta, líder do Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, no Twitter.

Outro líder centrista, Carlo Calenda, disse que a partilha de Meloni era “imoral”. Igiaba Scego, uma proeminente escritora italiana com raízes na Somália, acusou a líder da extrema-direita de explorar a vítima. “Foi oferecida como clickbait em vez de ser protegida. Esta campanha eleitoral é horrível”, escreveu Scego.

Meloni, que defende um bloqueio naval do Norte de África para impedir que os barcos de imigrantes partam da região, disse no Facebook que os seus rivais usaram a violação para atacá-la enquanto ignoram a vítima e o que apelidou de “emergência imigratória”.

Meloni tenta suavizar imagem de radical de direita

Meloni tem tentado suavizar a sua imagem internamente e credibilizá-la externamente, contrariando o radicalismo de direita que, segundo o partido, rivais e potenciais parceiros tentam colar-lhe.

Sílvio Berlusconi, líder da Força Itália (direita liberal, 7% a 10% das intenções de voto) e um dos parceiros da possível coligação, diz temer que Meloni e as suas posições extremas afastem os eleitores do seu partido.

Argumento usado também pelo mais sério adversário de Meloni, Enrico Letta, líder do Partido Democrático italiano (centro-esquerda, com 22% a 23% das intenções de voto), que alertou que nas eleições de 25 de Setembro as opções serão quase certamente entre dois blocos: um progressista e centrista - onde se insere - e outro populista de direita.

Para suavizar esta imagem de si e do partido, Meloni, 45 anos, no meio dos preparativos para a próxima campanha eleitoral, terá instruído, segundo a imprensa italiana, as direcções regionais do FdI a alertarem os membros para evitar declarações mais extremas, mencionar a ideologia fascista e para não fazerem em público a “saudação romana”, que consiste em estender o braço direito, num gesto semelhante à saudação nazi.

A líder do FDI continua a defender posições radicais em muitas questões, por exemplo ao declarar a sua oposição ao que chamou de “lobbies LGBT” e imigração, num evento de campanha em Espanha em apoio ao partido de extrema-direita Vox.

Mas, ao discursar no início deste ano na Conferência de Acção Política Conservadora, por exemplo, foi uma das vozes mais fortes a apelar à acção contra a Rússia. Com Lusa

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