Algas tóxicas podem ter levado à morte de milhares de peixes no rio Oder, entre a Polónia e a Alemanha

Cientistas de instituto alemão avisam que, caso se confirme que tem havido um crescimento de algas tóxicas numa parte do rio Oder, esse crescimento não constitui um “fenómeno natural”, mas sim um problema causado pela mão humana.

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Peixes mortos rio Oder: cientistas defendem que o Governo polaco demorou a responder à crise JAKUB STEZYCKI/Reuters

É possível que os milhares de peixes mortos que foram encontrados recentemente a flutuar no rio Oder, que separa a Polónia da Alemanha, tenham sido afectados pela presença de algas tóxicas, alertam investigadores dos dois países.

“Os resultados das análises dos nossos especialistas do Instituto para a Pesca em Águas Interiores [em Olsztyn, ​na Polónia] apontam para a presença de microrganismos (algas-douradas) na água do Oder”, disse, na última quinta-feira, a ministra do Clima e do Ambiente da Polónia, Anna Moskwa. Citada pelo Politico, a responsável assinalou​ que, na sequência da floração destas algas, pode ocorrer a emissão de toxinas que, não sendo prejudiciais para os humanos, podem ser letais para peixes e mariscos.

Investigadores do Instituto de Ecologia de Água Doce e Pesca em Águas Interiores (IGB), sediado em Berlim, analisaram amostras da água do Oder e identificaram a presença da espécie Prymnesium parvum, alga que é preocupante, pois pode produzir uma toxina capaz de matar peixes. Segundo a agência de notícias Deutsche Presse-Agentur, ainda não se sabe se as algas encontradas na parte polaca do rio são as mesmas do que as identificadas na parte alemã.

Com a ajuda da comunidade local, o governador de Widuchowa retirou muitos peixes mortos do rio Oder com forquilhas JAKUB STEZYCKI/Reuters
Ainda não se sabe o que provocou este desastre ambiental no rio Oder JAKUB STEZYCKI/Reuters
Há uma recompensa de um milhão de zlótis (cerca de 210 mil euros) para quem conseguir obter informações sobre a fonte de contaminação JAKUB STEZYCKI/Reuters
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Com a ajuda da comunidade local, o governador de Widuchowa retirou muitos peixes mortos do rio Oder com forquilhas JAKUB STEZYCKI/Reuters

Os investigadores do IGB avisam que, caso se confirme que tem havido um crescimento de algas tóxicas numa parte do Oder, esse crescimento constitui não um “fenómeno natural” e sim um problema causado pela mão humana. Os cientistas explicam que descargas de efluentes industriais, por um lado, e condições atmosféricas quentes e secas, por outro, podem estar por detrás da proliferação das algas.

Durante as secas, muitas espécies já estão numa “luta pela sobrevivência”, pois a falta de água, a temperatura excessivamente alta da água e os níveis baixos de oxigénio podem levar a um aumento da concentração de substâncias adversas, disse, também citado pelo Politico, Tobias Goldhammer, investigador do IGB. “Se outros perigos, como a proliferação de algas tóxicas, ou então contaminação química, forem adicionados à poluição existente, isso poderá, em breve, destruir ecossistemas de água doce inteiros”, acrescentou.

Este desastre ambiental terá começado no fim de Julho, quando pescadores polacos começaram a reparar em problemas perto do município de Olawa. Segundo o Politico, as autoridades polacas já removeram cerca de 100 toneladas de peixes mortos do rio. Do lado alemão do Oder, o número chega às 30 toneladas.

No dia 12 de Agosto, o primeiro-ministro da Polónia, Mateusz Morawiecki, demitiu as chefias tanto da autoridade nacional de gestão da água como do departamento responsável pela protecção do ambiente, afirmando que as suas instituições deveriam ter reagido mais cedo à crise.

“Estamos focados em, por um lado, travar o que está a acontecer e, por outro, encontrar a razão para esta situação”, disse à Reuters Aleksander Brzozka, porta-voz do Ministério do Clima e do Ambiente da Polónia. “A hipótese mais provável é que [a causa da contaminação] terá sido uma combinação de vários factores naturais”, afirmou ainda.

Há uma recompensa de um milhão de zlótis (cerca de 210 mil euros) para quem conseguir obter informações sobre a fonte de contaminação.

“Vão ser precisos anos para reconstruir o ecossistema

A população da vila polaca de Widuchowa — cujo governador, devidamente ajudado por voluntários, removeu peixes mortos do rio com forquilhas — disse à agência Reuters que os bombeiros e as forças de defesa territorial que o Governo polaco enviou para retirar toneladas de peixes mortos não estavam preparados para o que os esperava no rio.​ Segundo os seus relatos, a água estava com um cheiro tão desagradável e forte que a maioria vomitava durante o trabalho.

O comércio local também foi atingido. Piotr Bugaj, pescador e dono de barcos e quartos para alugar no Oder, percebeu logo que estava na hora de colocar o seu negócio em pausa quando soube do que estava a acontecer. Ele pediu aos seus hóspedes da Chéquia que saíssem da água e também cancelou todas as reservas futuras de clientes.

“Se é que tal é possível com uma tragédia destas, gostaria muito de vir a descobrir que apenas morreram os peixes que estavam na superfície. Mas ainda ninguém foi verificar o que é que está neste momento no fundo do rio”, disse Piotr Bugaj.

O Governo polaco prometeu apoio aos afectados pela crise.

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Piotr Bugaj, pescador e dono de barcos e quartos para alugar no rio Oder, teve de suspender o seu negócio devido ao desastre ecológico JAKUB STEZYCKI/Reuters

Piotr Piznal, um activista local, dedicou a sua vida a fotografar a vida selvagem ao redor do rio Oder. Ao longo da semana passada, documentou o desastre ecológico. “É difícil, porque o mundo que observei e fotografei nos últimos anos está a desaparecer”, disse. “Acho que, depois do que aconteceu no Oder, vão ser precisos anos para reconstruir o ecossistema... Tudo terá de renascer para funcionar como funcionou até agora.”

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